Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Elenco do filme 'Aquarius' protesta contra impeachment, em Cannes

Vídeo do protesto foi divulgado na página oficial do evento no Facebook

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Cannes, França - A equipe do filme brasileiro "Aquarius", liderada pelo diretor Kleber Mendonça Filho e pela atriz Sônia Braga, protestou nesta terça-feira (17/5) no tapete vermelho de Cannes contra o "golpe de Estado no Brasil". "Um golpe ocorreu no Brasil", "Resistiremos" e "Brasil não é mais uma democracia" foram alguns dos cartazes, escritos em diversos idiomas, que o cineasta e sua equipe seguraram na famosa escadaria do Palácio de Festivais.

Na sala do Grande Teatro Lumi;re, onde o filme foi projetado, o grupo voltou a se manifestar ao grito de "Fora", enquanto outras pessoas seguravam uma faixa com a frase: "Stop coup in Brazil". Um dos presentes abriu sua blusa para deixar à mostra uma camiseta com a inscrição "Super Dilma", em referência à presidente Dilma Rousseff, afastada neste mês de seu cargo no âmbito da abertura de um julgamento de impeachment, denunciado por ela como um "golpe de Estado".



Outras vozes
O cineasta criticou em particular o fim do ministério da Cultura. "É um reflexo do grande retrocesso que está acontecendo no Brasil", afirmou. "Há dois erros gravíssimos. O primeiro é desarticular um ministério da Cultura que em todos os países do mundo - como na França - é um eixo fundamental do desenvolvimento. O outro é desarticular o da Educação", disse. "É necessário reconstruir esta ideia do coletivo para transformar o mundo", disse o cineasta, que fez questão de afirmar não ser "nem lulista nem petista", e sim um "artista independente".

Isabel Penoni e Valentina Homem são duas jovens diretoras brasileiras que começaram a fazer cinema nos últimos anos. Em Cannes elas apresentaram, na mostra Quinzena dos Realizadores, o curta-metragem "Abigail", sobre a viúva do antropólogo Francisco Meireles, conhecido por seu trabalho com as comunidades indígenas nos anos 1940 e 50.

A visão de ambas sobre o que está acontecendo no Brasil também é muito crítica. "Do ponto de vista de quem faz cinema e quem trabalha com arte é terrível, porque havia conquistado algumas coisas graças às políticas de cultura, sobretudo com o governo Lula, que democratizou a cultura. Agora a tendência é ter muito menos investimento regular na produção", disse Penoni.

Valentina Homem observou que quase todos os filmes brasileiros exibidos em Cannes este ano - incluindo o próprio, o de Kleber Mendonça Filho, o de Eryk Rocha, assim como o curta aplaudido na Semana da Crítica "O Delírio é a Redenção dos Aflitos", de Fellipe Fernandes - foram produzidos em grande parte com dinheiro público canalizado por iniciativas dos governos anteriores.