A nova empreitada da Hanna-Barbera, hoje pertencente à Time Warner (também dona da DC Comics), é parecida com uma iniciativa da Mauricio de Sousa Produções (MSP), que, em 2012, inaugurou uma série de HQs com os personagens do quadrinista mais famoso do Brasil. No projeto, intitulado Graphic MSP, artistas nacionais dão um toque autoral e nova cara, na forma e conteúdo, a velhos conhecidos do público leitor, como a Turma da Mônica, Chico Bento, Astronauta, Piteco etc.
É comum, nas HQs e em outras mídias, que ocorram processos de transição na linguagem, narrativa e visual. Na evolução, surge também um amadurecimento das técnicas e temas abordados nos produtos, que, mesmo sendo prioritariamente pensados como entretenimento, buscam trazer mais realismo ou conexão com a atualidade. Personagens criados décadas atrás, dentro de outro contexto histórico e social, por mais icônicos e famosos que sejam, podem não ser atemporais e acabar soando deslocados ou datados.
Em alguns casos, a mudança acontece de forma gradativa e acaba não sendo tão notada. Batman e Superman são personagens hoje bastante diferentes de quando foram lançados. Não só os uniformes mudaram, como atitudes e comportamentos e, eventualmente, os super-heróis passam por reboots, com origens recontadas, atualizadas. O Homem-Aranha é exemplo. Hoje, tem diferentes versões nos quadrinhos: na revista original, continua o Peter Parker criado nos anos 1960. Em outro título mensal, quem encarna o aracnídeo é um adolescente negro com origens latinas, Miles Morales. Existe até versão futurista do personagem, Miguel O;Hara, o Homem-Aranha 2099.
O idealizador das graphic novels da Turma da Mônica, o jornalista Sidney Gusman, responsável pelo planejamento editorial da Mauricio de Sousa Produções, também enxerga semelhanças entre as duas iniciativas. ;Editorialmente, eu adorei. Fiquei empolgadíssimo e curioso com essa ideia (da DC Comics), ainda mais porque ela tem uma similaridade com um projeto que encabeço;, diz. ;Sempre achei que aqueles personagens (da Hanna-Barbera) mereciam uma releitura;, ressalta. Gusman acredita que a ideia da editora é conquistar um público novo, não apenas quem
Quando o traço fica suavizado
Enquanto os clássicos da Hanna-Barbera passam por uma transformação com a intenção de, na teoria, atrair um público mais maduro nos quadrinhos, existem casos de personagens que seguiram o caminho oposto. Lançadas originalmente nos quadrinhos em 1984, as Tartarugas Ninja foram suavizadas para ganhar as telas num desenho animado, exibido entre 1987 e 1996. Nas HQs, as tartarugas eram violentas e sombrias, ao ponto de matar o Destruidor (o vilão mais famoso da série de TV) na primeira edição. A mudança deu tão certo que ainda hoje influencia produtos da franquia: a nova série de filmes, iniciada em 2014 e com uma sequência com estreia marcada para agosto, transpõe elementos do seriado, como a personalidade dos quelônios, os veículos usados pelos heróis e personagens coadjuvantes.
Rambo foi mais um personagem que perdeu seus contornos violentos (e sua essência) ao ser levado para a televisão. Embora seja mais conhecido pelos quatro filmes estrelados por Sylvester Stallone, o personagem surgiu em 1972, no livro de estreia de David Morell: First Blood (aliás, esse é o título original do longa rebatizado, no Brasil, de Rambo: progamado para matar). O desenho animado não tinha mortes e mantinha o clima aventuresco. Conan, outro personagem da literatura eternizado no cinema por um astro dos anos 1980, neste caso, Arnold Schwarzenegger, também ganhou uma versão infantil para a TV na mesma época.
Repaginados
Salsicha tatuado, usando brincos alargadores e barbudo, Scooby usando uma coleira futurista e visor num dos olhos, Penélope Charmosa de colante e fuzil em mãos e Muttley com aspecto de cão raivoso e vestindo um exoesqueleto: pelo menos no visual, algumas das releituras foram bastante significativas, com o claro propósito de tornar os personagens mais adultos ou, pelo menos, causar essa impressão.
Corrida Maluca
Não é por acaso que a nova adaptação em quadrinhos tem um quê do mundo apocalíptico de Mad Max: o redesign contou com a participação do desenhista Mark Sexton, o principal artista responsável pelo storyboard de Estrada da fúria (2015), o mais recente filme da franquia, vencedor de seis Oscars.
Flintstones
A família pré-histórica parece ser uma das animações com a essência mais preservada nessa nova leva de HQs. Pelas imagens prévias que foram divulgadas, dá pra ver que o novo visual é bem fiel conceito original, embora no estilo mais adulto, próximo da maioria dos comics atuais. O lápis ficará por conta de Amanda Conner, principal artista da série da Arlequina entre 2014 e 2016, com roteiros do comediante Mark Russell.
Scooby Apocalypse
No comunicado oficial da editora, o publisher Dan DiDio afirmou que a nova série é algo como ;Scooby-Doo encontra The walking dead;. Na releitura, os investigadores do sobrenatural vivem num mundo pós-apocalíptico, onde um vírus de computador transformou parte da população em monstros.
Future Quest
O grande chamariz do título, além de resgatar Jonny Quest e a família para uma nova geração de leitores, é reunir outros heróis dos desenhos de aventura do antigo estúdio de animação, incluindo, Space Ghost, Herculoides, Homem Pássaro, Frankstein Jr., Os Impossíveis, Mightor e Galaxy Trio.