Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Apesar da crise, pernambucanos mantêm a energia criativa do Manguebeat

Nomes como Nação Zumbi, Siba e Mombojó se destacam nesse cenário

Reconhecido como o celeiro musical brasileiro, Recife ainda irradia o calor do movimento Manguebeat e surpreende a cena cultural do país com artistas que mesclam o contemporâneo e o popular. Nomes como Siba, Nação Zumbi e Mundo Livre S/A marcam a música pernambucana e, de toques da rabeca a acordes da guitarra, carregam histórias que representam o forte da tradição regional. Canções modernosas recheadas de sentimentos levam os amantes da música a um passeio pelos ladrilhos do Recife Antigo ou pelas ladeiras de Olinda. Já o batuque, pulsa forte no coração dos músicos e reverbera misturado ao som orgânico e eletrônico daquele estado, cheio de cores e tradições.

Nação Zumbi
;Recife até hoje grita cultura e a gente é impulsionado pelo que a cidade oferece, do côco ao maracatu entramos em uma viagem musical;, ressalta o vocalista da Nação Zumbi, Jorge du Peixe, que destaca a efervescência da capital pernambucana, onde todos os lugares são propícios à arte. ;As pessoas estão fazendo muitas músicas boas até de dentro do próprio quarto, músicas de verdade, com essência e do jeito que devem ser feitas;, acrescenta o músico, que fez show em Brasília na semana passada com o grupo Los Sebosos Postizos. Segundo ele, com o tempo os grupos e músicos se reinventam, mas a atmosfera do estado não deixa o DNA da raiz pernambucana morrer. ;A linguagem da música carrega literatura, cinema e muitas histórias; e a partir disso a gente se renova, a cada lançamento conquistamos novos públicos, que buscam conhecer as passagens da nossa trajetória;, completa Jorge du Peixe.

Na voz de Siba
Com os gestos de quem mergulhou na fonte da chamada cultura popular brasileira para debruçar sob as próprias composições, Siba é o símbolo da música pernambucana. Iniciou a carreira tocando guitarra e rabeca na banda Mestre Ambrósio e, desde lá, traz ao público a essência da diversidade cultural. ;Recife é uma cidade pulsante, então é difícil dar a dimensão do conteúdo musical produzido;, conta. Segundo ele, existe uma séria dificuldade em divulgar os trabalhos produzidos na própria capital. ;Recife tem o problema crônico de não solidificar um mercado na música local. O público é grande, mas não há espaços de divulgação e a produção fica marginalizada;, explica.


Identidade cultural

;Estamos em um momento cultural muito diferente de quando entrei na música, na época tinha uma conjunção de fatores reveladores; não só na música, como na identidade da cidade;, conta Fábio Trummer, vocalista da Banda Eddie. Segundo o cantor, que ao lado de Alexandre Urêa, Andret Oliveira, Rob Meira e Kiko Meira montou o grupo em 1989, na década de 1990 a música sintetizou o sentimento de identidade cultural e por isso conquistou uma grande dimensão. ;Não vejo isso saindo de Pernambuco hoje, porém, é um momento de grandes nomes. Grupos que atrás fizeram um momento revelador e traçaram novos caminhos para a arte brasileira, hoje estão mais maduros para desenvolver o trabalho;, explica.

Capital da inspiração
Já para o vocalista e guitarrista do grupo Mombojó, Felipe S, Pernambuco é uma terra de inspirações e nomes como Alceu Valença e Chico Science influenciaram as gerações que os seguiram, o que fez a cidade continuar com os pés na arte. ;Um dos lemas do Manguebeat é ser diferente e isso ficou marcado em Recife, essa coisa da diversidade, de uma banda ser diferente da outra, foi um grande legado de Chico Science;, argumenta. A proatividade ainda é muito intensa. ;Desde quando comecei na música já era desse jeito e não mudou, o que mudou foi o mercado, que agora tem menos dinheiro;, acrescenta.

Luta com a modernidade

[SAIBAMAIS]Vocalista do Mundo Livre S/A, Fred Zero Quatro construiu a carreira na beira mar do bairro de Candeias, em Recife. O artista, que se destacou com canções como Meu esquema e Pastilhas coloridas, diz que o problema da produção musical, hoje, está na má utilização da modernidade. ;A cadeia produtiva é muito mais perversa para quem está começando; acho que essa cadeia de hoje transforma a fidelização do público em um grande desafio;, argumenta. Segundo ele, as produções estão chegando em um cenário muito disperso e não se tem um filtro de qualidade. ;Não é uma coisa só de Recife, foi um paradigma que se construiu. A música agora é vista como um acessório, uma mercadoria gratuita;, acrescenta Fred.

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