Prestes a completar 50 anos, a Tropicália ganhou "novos protagonistas". Para um dos líderes do movimento cultural, Caetano Veloso, ritmos como funk, axé e sertanejo universitário formam a nova face da linguagem tão explorada nos anos 1960. "O funk no Brasil hoje é uma coisa totalmente brasileira. E as letras, que às vezes são muito obscenas, ou ligadas ao narcotráfico e à bandidagem, ficaram cada vez mais criativas. Os efeitos sonoros também", disse em entrevista à BBC Brasil.
O comentário faz parte de uma série de depoimentos que Caetano fez em dezembro para o documentário Tropicália ; Revolution in Sound. Depois da exibição do material pela BBC Radio 4 e pelo Serviço Mundial da BBC, partes da entrevista foram publicadas. Além do cantor e compositor, Gilberto Gil também participou da produção.
"Eles [funkeiros] começaram importando o Miami Bass para as festas. Depois, começaram a compor suas próprias músicas. E colocaram uma batida que vem da umbanda e do maculelê. Então, funk no Brasil hoje é uma coisa totalmente brasileira", destacou Caetano. "Essas surpresas acontecem, como aconteceu com o carnaval na Bahia. E como está acontecendo hoje com o sertanejo universitário. É uma música vulgar e sentimental e você acha que é bobagem, mas eles são tão afinados", completou.
O compositor de Leãzinho também falou sobre o medo que passou quando foi preso, em 1969, durante a ditadura no Brasil. "Fomos levados a um quartel (no Rio de Janeiro) e ficamos presos (na primeira semana) em regime solitário. Fiquei um pouco louco. (...) Algumas pessoas são colocadas na prisão e não ficam tão perturbadas mentalmente. Acho que sou muito narcisista para aguentar uma situação como essa".