Quem circulou pelo muro da vergonha no último domingo se deparou com pequenos cartazes curiosos. Em alguns, havia frases como ;O que a TV cala, o muro grita;, ;Abaixo a Rede Golpe;, ;A mídia omite, o povo berra;, ;Não pisem na democracia; e ;Não pisem nos outros;. As inserções em formato lambe-lambe idealizadas pelo coletivo Transverso foram espalhadas por Brasília e São Paulo. Foram mais de 100 cartazes colados em locais estratégicos das duas cidades em dias decisivos para a história do país, uma resposta imediata a uma situação que os integrantes do coletivo consideram urgente.
A resposta da arte pode ser feroz e contundente em momentos de tensão e, muitas vezes, reflete de imediato na produção de alguns artistas. No caso do Transverso, era inevitável. ;Por ser um coletivo de artistas que trabalham com o espaço público, que é um espaço político por excelência, todas as vozes estão presentes;, explica Caue Maia, um dos membros do grupo. ;A gente vive um momento em que a Constituição está sendo violada e a Constituição é do povo. A gente não podia deixar de comentar isso. A partir do momento em que o voto deixa de valer, a gente entra em um momento de instabilidade e insegurança.; Para o artista, o impeachment desconsidera os 54 milhões de votos recebidos pela presidente Dilma Rousseff e isso não poderia passar sem uma intervenção, nem que fosse apenas simbólica.
Nem sempre o comentário político é explícito e tão direto, mas muitos artistas consideram normal que seus trabalhos carreguem um pouco do peso imposto pelos momentos políticos. E, para muitos, se posicionar é necessário. Por isso Lucas Hamú, um dos sócios da galeria Objeto Encontrado, organizou uma feira de Arte e Política no último final de semana, seguida de um debate na terça-feira à noite.
A princípio, a ideia era fazer um evento para discutir a relação entre arte e política de forma conceitual e histórica. ;Mas acredito que é mais urgente falarmos especificamente sobre o que estamos vivendo. Por isso, tanto o debate quanto a feira teve muito mais uma intenção de criar um espaço para manifestarmos e nos posicionarmos do que discutir questões mais abstratas;, explica Lucas. Para ele, a arte contemporânea perdeu muito da força política. ;O que me parece uma constante é que a arte assume sempre uma posição de esquerda, mas o engajamento e o poder de resistência não são suficientes para incomodar e mudar;, lamenta.