Durante quatro dias, em agosto do ano passado, Rauzier empreendeu uma maratona e visitou os interiores dos principais palácios e outros prédios públicos projetados por Oscar Niemeyer. Com uma câmera digital, realizou centenas de registros. Rauzier admite que fotografou compulsivamente. Ficou fascinado pelas formas, mas também pelos interiores e seu conteúdo. ;Acho que fiz foto de todas as obras de arte que estão nos palácios;, arrisca. O registro compulsivo é uma necessidade. A obra do francês não nasce de um clique pensado e estudado, mas de uma composição posterior, na qual ele junta milhares de fragmentos para formar um gigantesco mosaico.
Cada imagem comporta em média 1.500 fotografias. O resultado são painéis que podem ter entre 1,20m e 1,80m de altura e reproduzem uma paisagem fictícia construída a partir da liberdade poética do artista. No caso de Brasília, a leitura futurística é inevitável. A observação minuciosa é um dos instrumentos do fotógrafo. Ele garante que, hoje, conhece cada canto e cada detalhe de edifícios como o Itamaraty, o Palácio da Alvorada, o Ministério da Justiça e a Catedral Metropolitana. É necessário para fazer o que Rauzier chama de hiperfotografia.
O termo já foi alvo de polêmica. Apareceu pela primeira vez em uma descrição do trabalho do fotógrafo na Wikipédia. ;Disseram que eu tinha inventado a hiperfotografia;, conta. ;Porém aí disseram que é mais uma fotografia de mosaicos. Mas no início, foi simplesmente porque eu queria fazer pintura hiper-realista, ficava fascinado como os hiper-realistas ficavam tanto tempo em um detalhe;. É uma espécie de obsessão, ele reconhece, mas também uma forma de pintar. ;Graças a essa técnica, eu reencontrei a lentidão da pintura;, explica. Um primeiro momento do trabalho pode parecer bem distante da lentidão ; e as disparadas de cliques realmente estão longe do enquadramento muito planejado ;, mas a organização do quebra-cabeça leva um tempo para se instalar na cabeça do fotógrafo.
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