Se alguém tiver dúvidas no reino da química, pode perguntar para o cineasta Péterson Paim, um professor que se assume ;bem anfíbio;. ;Levo muito do cinema para a química, dentro da sala de aula. Uso trechos de filmes para repassar conteúdo;, explica. Na artimanha, ele já explicou a falta de combustão para o Tocha Humana que, no espaço, fica sem oxigênio, e nega fogo, em Quarteto fantástico e o Surfista prateado, além de ter decifrado, para os alunos, os corpos congelados, na versão para o naufrágio de Titanic. Atentos, os estudantes do Centro Educacional 2 (Guará) ficam mais animados, enquanto Paim exerce a vocação quixotesca: ;Uma hora, vou ficar por conta do cinema, na carreira. Meu cinema é de guerrilha, mas quero ver se parto só para realização de longas;.
Empolgado, desde os 7 anos, com um desenho animado na extinta Rede Manchete, Paim ; no imaginário ; nunca se desprendeu da imagem de Dom Quixote, visto na tevê. Depois da estrada com mais de 20 filmes realizados, a admiração verteu inspiração: tendo o ator Gê Martu como protagonista, Paim realizou a adaptação candanga de Dom Quixote. O resultado promete ser o de um primeiro curta com fundo mais profissional, em 19 anos, pelo respaldo da aplicação de R$ 120 mil oriundos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC).
Há menos de um mês, o diretor deu por prontas duas versões para a fita: uma de 26 minutos e outra, com 15. ;Nesse filme, já percebi mais profissionalismo, pela correção de cor e pela mixagem de som ; deram bom diferencial. Antes, tinha a cara de faltar algo. Agora, contei com trilha própria, e o DCP (sistema de codificação digital) vai dar maior trânsito em festivais;, espera o cineasta.
Com muitas liberdades, Paim recicla o clássico texto de Miguel de Cervantes. Advogado, Quixote curte LSD e aposta na justiça com as próprias mãos, tendo por oponentes monstros que sintetizam piores traços da humanidade. ;O filme terá uma conotação política, mas cômica. Traremos grilagem de terra e exploração da prostituição; tudo com ar pitoresco. Se antes Quixote delirava, aqui o lance se dá por alucinógeno;, comenta o cineasta. Na fita, Dulcinea, a musa do persistente cavaleiro, ganha a interpretação de Priscila de Lavor, na pele de uma prostituta, e Sancho Pança (um camelô, no caso) será representado por José de Campos.