Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Rede do bem: Projeto Nota 10 oferece oficinas culturais nas periferias

Iniciativa atende mais de 400 jovens a partir dos 8 anos


Cleniston de Jesus, mais conhecido como Nest, se viu envolvido com a vida do crime desde os 10 anos. Chegou a cumprir medida socioeducativa e ficou dois anos preso na Papuda. Hoje, com 30, pode dizer que foi a inserção na arte, com auxílio do projeto Nota 10, que o fez mudar de vida. ;Em 2010, eu conheci a Nubia (Santana, idealizadora da iniciativa). Ela estava em busca de jovens para ingressar no projeto. No início, eu não queria, já tinham passado vários projetos que não duravam. Mas a oportunidade de ser um artista me fez querer participar e me deu força para não voltar para o crime. Foi o combustível;, lembra Nest, que é rapper, grafiteiro, artista plástico, percussionista e ator. Atualmente, ele é um dos monitores do projeto Nota 10, nas aulas de grafite.
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Neste, ao lado de Mateus Alefe, 21 anos, Marcelo Nunes, 23, Ailton Junior, 22, e Paula Oliveira, 37, faz parte o grupo de integrantes que está desde o início do projeto, que surgiu em meados de 2010. ;Conheci o projeto por conta da minha escola (na Barragem IV de Águas Lindas de Goiás), que era conhecida até como Carandiru pelos problemas e por ter a fachada parecida com a prisão. Nós não queríamos o projeto, achávamos que não resolveria. Até que fiz aulas de teatro, percussão e capoeira e elas começaram a me ajudar a passar o tempo. Aquele momento que eu ficaria ocioso e poderia estar na rua, eu tinha as atividades para me tirar de lá. Pois é na rua que se tem os convites quando se vive em uma comunidade com criminalidade e diversos problemas;, explica Mateus, que hoje é vice-presidente do projeto Nota 10, instrutor das oficinas de percussão e se tornou um exemplo aos novos integrantes da iniciativa. ;Muitos dos jovens não têm apoio em casa. Eles veem os antigos integrantes como essa figura paterna ou materna;, conta. ;Ter aulas gratuitas é uma oportunidade de distração e de fugir do que a rua oferece, a violência e as drogas. Eu mesmo nem saberia como estaria hoje se não tivesse;, afirma Ailton.
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O projeto Nota 10 começou a dar seus primeiros passos ainda em 2009 quando a cineasta pernambucana radicada em Brasília Nubia Santana produziu o documentário Pra ficar de boa, que mostrava o cotidiano de crianças e adolescentes marginalizados do DF e Entorno. Durante as gravações, Nubia teve acesso a questões como desestrutura familiar, influência das drogas, criminalidade e guerras entre gangues. ;Conheci vários jovens por conta do filme e eles mantiveram contato comigo, me pedindo ajuda. Então, comecei o projeto Nota 10, com objetivo de levar aquele jovem ;nota 0; a se tornar ;nota 10;. Fiz isso por meio da arte, que tem o poder de aproximar, humanizar e dar oportunidades. É algo que tem resultado concreto. É uma troca da arma pela arte", defende a diretora.

Desde então, o projeto passou por Riacho Fundo I, Samambaia e Águas Lindas de Goiás, esses dois últimos permanecem ativos, e pretende seguir para regiões como Planaltina de Goiás com apoio de outras iniciativas. Ao todo, são mais de 400 jovens a partir de 8 anos atendidos pelo Nota 10, com dois tipos de perfis: egressos da criminalidade e o chamado preventivo. ;Eu entendo que além de tirar os jovens do crime esse tipo de projeto tem que agir de forma preventiva, antes mesmo que as crianças possam ter acesso ao tráfico, às drogas, à criminalidade, a arte tem que chegar à vida delas;, completa Nubia Santana, que também ressalta a importância das oficinas profissionalizantes em segundo momento. ;A arte ensina muita coisa, mas também é preciso criar uma oportunidade que possa fazer com que eles não caiam no atrativo da criminalidade;, defende.


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