postado em 03/04/2016 07:35
Um dos mais populares nomes da música brasileira, graças ao sucesso de canções como Colombina e Fora da lei, Ed Motta experimentou o assédio do público durante anos, que lotavam as apresentações do cantor e músico carioca. Aos poucos, o artista deixou de priorizar as composições radiofônicas e investiu no instrumental e no experimentalismo vocal, o que gerou belos trabalhos, a exemplo de Dwitza e do novíssimo Perpetual gateways, lançado inicialmente no exterior e que acaba de chegar às prateleiras brasileiras. Ainda seduzido pelo soul, Ed passou a flertar intimamente com o jazz. As multidões de outrora agora lhe assistem em teatros. A virtuosidade nos instrumentos e a voz grave o levaram a ser cultuado no exterior. E ele alterna entre lá e cá.
>>Ponto a ponto // Ed Motta
Novo disco
Foi gravado de forma muito espontânea. Eu, geralmente, demoro na produção dos meus trabalhos, mas esse foi gravado em três dias. Foi parecido com aqueles discos de antigamente, que eram gravados mais rápidos. Todos tocando juntos. Tivemos um único ensaio, levei os arranjos já prontos, e a coisa aconteceu. As letras são inspiradas em roteiros de filmes. Tem essa referência ao cinema preto e branco, a séries de tevê antigas.
Maturidade precoce
Eu sempre tive essa alma mais velha. Eu acreditava que essas minhas referências, de músicas e filmes antigos, eram a coisa mais jovem do mundo.
Público internacional
Quando garoto, sempre tive vontade que minha música tivesse um alcance internacional. Eu não conseguia isso. Por anos, apenas dialoguei com o mercado local. Hoje, eu viajo para uma série de países, locais que nunca estive. Acho incrível. Ninguém fica eternamente na parada de sucessos. Minha música caminhou para um lado de sofisticação que encontra um público relevante no Brasil mas que também encontra recepção em outros lugares, o que me propicia tocar para novas plateias. A exemplo de grandes músicos brasileiros que fizeram o mesmo, como Egberto Gismonti e Hermeto Pascoal.
Trabalhos elaborados
Quando você faz um trabalho um pouco mais elaborado, faz-se necessária uma atenção mais especial. Se eu tivesse 10 hits na mão, eu faria um disco com os 10 hits. Eu sou escravo daquelas canções que tenho em mãos. E, talvez no momento, eu não tenha um hit. E não tenho nada contra o pop, contra o que está nas radios. Escuto de tudo. Na minha casa, toca Stravinsky, jazz, sucessos radiofônicos.
Panorama atual
Escuto muito música brasileira, sempre em busca de raridades. Geralmente, discos de vinis, dos anos 1960, 1970. O que é feito hoje me parece menos legítimo do que o que já foi feito em décadas anteriores, em termos de música. As coisas lá de trás tinham uma verdade de execução e talento absurdos, seja aqui, seja no exterior. A produção atual é muito fruto da demanda da indústria. A indústria molda os artistas. Mas há gente boa no meio desse tudo. Há um músico do Espírito Santo chamado Lucas Arruda, por exemplo. Gosto muito do trabalho dele. Um cara velho e novo. Toca vários instrumentos. Está despontando lá fora também.
Cenário político
O cenário político nunca foi algo que me interessou. Eu sempre fiquei dentro da arte. Dentro da arte, tudo me interessa. Agora, estou sempre lendo, buscando informação, acompanhando de alguma forma, mesmo que não seja algo que me mova.
Redes sociais
Depois daquele episódio (em 2015, o cantor criticou parte do público brasileiro que o acompanha nos shows e gerou indignação nas redes), ficou tudo tranquilo. Eu uso as redes sociais diariamente, como se fosse uma rádio, disparando milhares de músicas, dos mais diversos artistas. Houve um problema, mas, atualmente, o que volta para mim é muito positivo. Acho uma ferramenta ótima.
Vida no exterior
Fiquei três meses na Europa, mas sinto falta do Rio de Janeiro. Dessa natureza, desse verde. Eu sinto falta de onde tenho minhas coisas, de onde faço minha música. Aqui é meu escritório mental. Sou grato pela oportunidade de viajar com meu trabalho, mas chega uma hora que a saudade de casa é maior.
Capital Federal
Foram milhares de idas a Brasília, onde tenho muitos amigos, além de um público incrível. Já comprei muitos discos em Brasília. Toda vez que vou, volto com vinil debaixo do braço. Vocês têm boas lojas de discos e as visito religiosamente. Geralmente, antes mesmo de ir para o hotel. Prefiro esses redutos dos LPs do que o Congresso Nacional. O que acontece ali dentro do Congresso, seja para prejudicar ou solucionar, é passageiro. Os discos são eternos. A arte é eterna. Por isso não passo nem perto do Congresso, e corro para meus discos.