<p class="texto"> </p><p class="texto"><img src="https://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2016/03/28/524252/20160327115757693445a.jpg" alt="Facsímile de bilhete enviado por Millôr Fernandes a Manoel de Barros" /> </p><p class="texto"> </p><p class="texto">Antes de ser o homem das pequenezas e das ;ignorãças;, o menino do mato do Mato Grosso que fazia compêndio de passarinhos, Manoel de Barros foi um modernista. Quando começou a escrever poesia, nos anos 1930, o modernismo brasileiro já estava em uma fase madura e caminhava firme e forte no caminho da ruptura de linguagens que estabelecera nos anos 1920. Manoel subiu no bonde já andando quando cometeu os primeiros versos. Portanto, seu <em>Poemas concebidos sem pecado</em>, escrito em 1937, é moderno porque a poesia que se fazia na época era moderna. É um bom ponto de partida para adentrar a obra do poeta, cujo centenário de nascimento foi comemorado em dezembro e é celebrado agora nas livrarias com o início da reedição da obra programada pela Alfaguara.<br /><br />A editora adquiriu os direitos de publicação em novembro de 2015, pouco antes da morte do poeta, e deve lançar ao todo 18 livros de poesia, três de prosa poética e quatro infantis. A previsão é que as reedições saiam até 2018, mas não haverá uma ordem cronológica. O primeiro lote de lançamentos inclui <em>Poemas concebidos sem pecado</em> (1937) e <em>Face imóvel</em> (1942), ambos em um único volume, e <em>Arranjos para assobios</em> (1982). A coordenação ficou nas mãos de Ítalo Moriconi, responsável pelo prefácio de<em> Poemas concebidos sem pecado</em> e<em> Face imóvel</em>. Luiz Ruffato escreve a introdução a Arranjos para assobio e O livro das ignorãças será prefaciado pelo escritor português Valter Hugo Mae.<br /><br /><br /><br />Tesouros<br /><br />Não há poesias novas entre as reedições, mas haverá muitas cartas e fotografias inéditas. Manoel de Barros não era um grande missivista e sua correspondência é esporádica, o que não impede de ser depositária de alguns tesouros. Cartas de Millôr Fernandes, Carlos Drummond de Andrade e Mario de Andrade estarão no primeiro volume de correspondências. É uma maneira de conhecer o Manoel de Barros literário e, sobretudo, descobrir um poeta próximo de um modernismo maduro e engatinhando na busca do próprio estilo. ;Acho que a vida literária é até mais importante que o contexto social geral para você entender certas coisas das obras. Ela agrega uma certa compreensão, coloca o Manoel de Barros mais dentro do cânone, embora ele tenha uma posição idiossincrática no que seria o cânone da literatura brasileira;, avisa Moriconi. ;Ele não é um poeta intuitivo, é um poeta de muita leitura, que tinha um corpo a corpo com os demais prosadores e poetas e tinha também uma comunicação, embora rara.;<br /><br />Para Moriconi, <em>Poemas concebidos sem pecado</em> traz um Manoel de Barros bastante modernista e ainda distante da linguagem que o projetaria décadas mais tarde. No entanto, é um modernismo regular, que não carrega as grandes rupturas dos primeiros poetas modernos. ;A gente vê bem, lendo com muita atenção as cartas, como ele dialoga com Mario de Andrade;, conta Moriconi. ;Tem até uma certa cadência marioandradina nesses primeiros livros, alguma coisa de uma linguagem modernista dos anos 1920. Mas eu considero o Manoel de Barros um poeta contemporâneo, ele realmente penetrou no imaginário poético a partir dos anos 1980.;<br /><br />A contemporaneidade de Manoel de Barros nunca se esgotou. Ela se encaixou bem nos anos 1980, assim como nos 1990 e no século 21. Se manteve universal e atemporal. Com versos que falam das miudezas do cotidiano, daqueles lampejos que passam desapercebidos, dos segundos ignorados em um tempo marcado pela velocidade e pelos excessos, o mato-grossense é praticamente um sopro de liberdade. Talvez porque, como aponta Moriconi, as pessoas estejam cansadas da cultura dominante. Ou por nostalgia de uma proximidade perdida com a natureza. ;O excesso de ostentação e consumo cria uma necessidade contraposta, seja ela mental, espiritual real. Acho que Manoel de Barros exerce muito esse papel, ele tem uma força muito grande por esse contraste que ele cria. As pessoas, me parece, estão muito velozes e vertiginosas, mas, elas também estão muito infelizes;, repara Moriconi. Como contraponto de um mundo rural, o poeta trabalha a nostalgia na linguagem e escava ali o lado lento da vida, o inútil, o pequeno. Talvez, aponta o organizador, essa seja uma necessidade cada vez mais urgente na sociedade contemporânea.</p><p class="texto"> </p><p class="texto"> </p><div>A matéria completa está disponível <a href="http://impresso.correioweb.com.br/app/noticia/cadernos/diversao-e-arte/2016/03/26/interna_diversaoearte,201623/viagem-ilustrada.shtml">aqui</a>, para assinantes. 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