Quando decidiu escrever sobre o Ártico e a Antártida, o jornalista Claudio Angelo sabia que ali estavam as duas maiores vítimas da mudança climática. Depositárias de 80% da água doce do planeta e radiadores da Terra, as duas regiões começaram a derreter há mais de três décadas. As emissões de CO2 contribuíram para o aumento da temperatura global e os gelos milenares dos polos sentiram o efeito. Claudio viu no fato ;uma das maiores histórias deste século; e decidiu escrever A espiral da morte -- Como a humanidade alterou a máquina do clima, que será lançado hoje, às 19h, na Livraria Cultura do Iguatemi.
O livro de 490 páginas é resultado de dois anos de pesquisa e cinco viagens aos extremos Norte e Sul do planeta em busca de entender como o homem chegou à situação atual e quais são suas consequências após mais de um século de interferência no clima global. ;Achava que era uma história que estava aí para ser contada;, explica o autor. ;O Ártico foi a primeira grande vítima da mudança do clima. A história da espiral da morte que está no título é esse processo de derretimento progressivo do gelo no Ártico.;
Para sensibilizar o leitor, Claudio propõe, logo nas primeiras páginas, uma reflexão sobre como tudo isso afeta o leitor, tão distante dos polos e das geleiras. A maneira mais direta de responder à pergunta é com exemplos como uma seca extrema que afetou a produção -- e consequentemente o preço -- da soja em 2004 e os incêndios que atingiram certas partes do globo por conta de temperaturas elevadas em 2010. Os fogos afetaram a produção de grãos e o pão ficou mais caro naquele ano. ;O degelo tem impactos a curto prazo, sazonais, a longo prazo e a longuíssimo prazo;, explica o autor, que é coordenador de comunicação do Observatório do Clima.
No livro, ele também aborda as questões políticas que envolvem o assunto e critica a postura brasileira. ;A gente está deitando em louros que colhemos recentemente sem fazer muito esforço, que foi reduzir o desmatamento;, diz. Segundo Claudio, a redução não afetou a economia brasileira e foi resultado apenas da contenção de crimes ambientais. ;Se a gente levasse a sério a produção de energia limpa, teríamos vantagem que poderia ser competitiva, se não tratássemos o assunto climático como lateral;, garante. O autor também faz críticas ao Acordo de Paris, aprovado em dezembro do ano passado durante a COP 21, em Paris, e ratificado por 195 países. O acordo tem como objetivo limitar o aumento da temperatura global a, no máximo, 2; C acima dos níveis pré-industriais. ;O avanço do Acordo de Paris é ele existir, independente de ficar ser bom ou ruim. Ele é ruim, na verdade, porque deixa tudo nas mãos dos países. Mas é um avanço político e geopolítico significativo.;
A espiral da morte - Como a humanidade alterou a máquina do clima
De Claudio Angelo. Companhia das Letras, 490 páginas. R$ 59,90