Diversão e Arte

'Salve, César' dos irmãos Cohen, abre o festival de cinema em Berlim

George Clooney estrela como épico romano e não agrada críticos

Rui Martins, Especial para o Correio
postado em 12/02/2016 11:54

Ator George Clooney em

Berlim - A comédia dos Irmãos Cohen, mostrando a vida nos estúdios de cinema nos anos 1950, à qual se referem "com afeição e um pouco de admiração, não com nostalgia", não é das melhores da dupla e o personagem vivido por George Clooney não é dos mais brilhantes, razão pela qual o conhecido homem das máquinas de café expresso da Nestlé, se pergunta rindo "será que sou tão tonto assim?"

O filme trata da história, vivida por Josh Brolin, de um sério diretor de estúdios e quebrador de galhos que surgem entre os artistas, se é assim que se pode traduzir "fixer", baseado num personagem real existente naqueles anos, na MGM (seria o verdadeiro Joseph Edward Manix) e se baseando também nas colunas sociais de jornalistas correspondentes em Hollywood daquela época.

A história da atriz grávida (Scarlett Johansson) cuja gravidez e parto foram mantidos em segredo, aconteceu realmente. Para ficar com a criança, ela simulou uma adoção. Era a época da cronista Loretta Young, língua de trapo, especialista em descobrir escândalos, que poderia ter contado a gravidez de uma atriz pelo ator Clark Gable.

Mas ao ironizar e construir o filme com seu título e roteiro principal no personagem vivido por George Clooney, portanto, em cima do sequestro do ator por um grupo de comunistas de Hollywood, talvez os Irmãos Cohen tenham forçado nas cores.

Isso porque outro filme nas telas dos cinemas, com o nome de Trumbo, retorna aos anos da guerra fria e do macarthismo nos EUA e dentro de Hollywood, fazendo fugir gente como Charlie Chaplin, Kubrick e outros. Durante a entrevista coletiva, uma jornalista tentou levantar a questão do marcartismo dentro dos estúdios de cinema, porém os irmãos Cohen não descartaram.

Os irmãos Cohen teriam se inspirado de algum caso de ator raptado, naquela época, por um grupo de comunistas com cúmplices dentro dos estúdios de Hollywood, para obter um resgate que acabou se perdendo no mar, diante de um submarino soviético? Ou o episódio teria sido a provocação de que os comunistas dos estúdios da época queriam influir nos filmes e curtiam a ilusão soviética, como diziam os macartistas?

No longa, Clooney tem um papel ridículo, num filme épico romano, alusão aos diferentes filmes bíblicos da época, com os trajes de um centurião na legião romana, que se converte aos pés da cruz de Jesus. Se realmente os irmãos Cohen pensavam nele ao escrever o roteiro, Clooney teria razão para se ofender.

Depois de raptado, o ator passa por uma lavagem de cérebro, simpatiza com as ideias de seus raptores e, ao ser libertado com o pagamento da soma exigida, quer convencer o diretor dos estúdios com a repetição dos argumentos comunistas aprendidos de seus raptores, tentativa terminada com quatro bolachas aplicadas na cara pelo diretor.

Nos estúdios aconteciam absurdos como utilizar, sem explicação um ator de rodeios e western para um filme totalmente diferente, dramático, como de um Çukor. E relembra igualmente, com Channing Tatum, aquelas comédias musicais com claquetes e números de dança atualmente ausentes dos filmes de Hollywood. No filme, é o ator da comédia musical de marinheiros que recebe o resgate para a libertação do legionário romano Baird Whitlock, vivido por Clooney.

Clooney brinca e se azeda

Na apresentação do filme, era dos irmãos Cohen serem as estrelas, mas o astro maior na sala abarrotada de jornalistas no Festival de Berlim, foi o ator George Clooney. Numa interminável pergunta, uma jovem jornalista, fã de Clooney, acabou ouvindo a resposta que faz rir toda a sala: "Você está me cantando ? Eu sou casado"

Outra jornalista deixou o ator de mau humor ao sugerir que o ator deveria usar de seu prestígio para fazer um filme sobre os povos e regiões que vivem hoje guerra e miséria, insinuando haver muita conversa e pouca ação. O ator se defende dizendo que já esteve no Dafur e tem encontro com Angela Merkel, explica também que um filme é algo complicado para se fazer, é preciso se construir uma história e que isso não se consegue facilmente. Mas que ele, Clooney, achava estranho esse tipo de pergunta, na verdade, embora não tenha dito, era uma cobrança.

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