Nascido em Trento, uma pequena cidade da Itália, o fotógrafo, que vive no Brasil há sete anos, é ex-jornalista, ex-professor de literatura e resolveu trocar as letras pelas imagens ao descobrir sua paixão pela fotografia. Veneri conheceu a capital baiana em 2006 e, em 2011, passou a viver no bairro de Itapuã. O artista, que se considera baiano de coração, tem preferência por fazer imagens das cidades, do ambiente urbano e afirma que não tem interesse pelo lado bucólico da vida e sim por procurar a beleza dentro do caos, da desordem, do miolo da cidade.
O fotógrafo conheceu o candomblé e se aprofundou nos estudos da cultura afro, começando a identificar em espaços urbanos de Salvador pessoas que traziam traços característicos de determinadas divindades africanas, e assim, nasceu o ensaio Orixás. ;Eu não queria fotografar com a usual abordagem folclórica, antes quis entender a religião. Esse trabalho é uma homenagem a Salvador e à Bahia.;
[SAIBAMAIS]Nos últimos anos o artista se dedicou a fotografar a beleza e a violência urbana, os extremos cotidianos brasileiros que caminham lado a lado. E agora, a ideia foi registrar o cotidiano de Salvador, onde realizou grande parte de seu trabalho documental como fotógrafo. Em Orixás, Veneri optou por misturar fotografias préproduzidas com as espontâneas, captadas no cotidiano da cidade.
;Este ensaio foge de todos os outros meus trabalhos, que são documentais e de fotojornalismo. Nesse trabalho, quis construir, produzir algumas imagens, mas o meu lado fotógrafo de rua voltou, através das fotos e dos momentos instantâneos. Não tinha como não ser assim, Salvador te obriga a fotografar o que ela quer e eu deixo que ela faça isso;, conta o fotógrafo.
Para tentar representar como seriam os orixás de hoje e que visual teriam esses arquétipos dentro do contexto urbano, Veneri saiu em busca de suas próprias divindades. No caso de Iemanjá, por exemplo, o fotógrafo queria encontrar uma mulher forte, fora dos padrões corporais atualmente estabelecidos. ;Eu sempre imaginei Iemanjá assim, fora dos clichês de beleza contemporâneos;.
O artista, que não se declara pertencente a nenhuma religião, afirma ter se encantado pela beleza do candomblé e quis realizar uma homenagem, um tributo, sem pretensão de reinterpretar verdadeiramente os corpos dos orixás. Veneri conta que na maioria das fotos a relação com as divindades foi percebida apenas depois que já havia fotografado.
O ensaio chama a atenção pela beleza das fotografias e pelo respeito com a religião e os próximos passos incluem uma exposição itinerante. O fotógrafo se diz realizado ao perceber que quem aprecia as fotos tem entendido sua verdadeira intenção, de homenagear a cultura afro-brasileira e, especialmente, a alma feminina da Bahia. ;Salvador é isso, criação e improviso. Tudo nessa cidade se mistura e os extremos andam juntos. Beleza e miséria, felicidade e dor, masculino e feminino;, declara.
Para Veneri, não importava se os fotografados fossem ou não praticante da religião; vistos pelos seus olhos, os moradores de Salvador carregavam nos corpos e nos movimentos, algo da cultura que foi de seus antepassados e essa relação era percebida depois das fotografias, já que, como ressalta o fotógrafo, a cidade só deixa fotografar aquilo que ela mesma quer mostrar.