Diversão e Arte

Artistas brasilienses continuam resistindo à censura da Lei do Silêncio

Fechamento de bares e pressão de alguns moradores não intimidam músicos da cidade

postado em 01/02/2016 06:00

Os Filhos de Dona Maria: renda reduzida pela metade com o fechamento dos baresHá mais de 10 anos no cenário musical de Brasília, o grupo Bejazz tem o bar Pinella como a principal casa de shows, onde toca todas as terças há dois anos e meio. Com a aplicação da Lei do Silêncio, a trupe teve de adaptar as apresentações para atender às reclamações dos moradores, que alegavam ultrapassagem do limite sonoro.

;Nosso repertório é muito tranquilo e sempre tocamos relativamente baixo, até para não incomodar quem está querendo conversar nas mesas;, explica o baterista, Gafanhoto. Mesmo assim, não foi o suficiente para a vizinhança. O bar está isolado acusticamente, as caixas de som foram redirecionadas e o BeJazz não utiliza amplificadores. ;A qualidade do som fica horrível e toda semana o público reclama que não consegue ouvir direito;, ressalta. ;Mas melhor assim que não poder tocar;, suspira.

[SAIBAMAIS]Além da restrição à liberdade para fazer boa música, as mudanças trouxeram prejuízos financeiros, porque a arrecadação de couvert diminuiu com a baixa rotatividade de clientes no bar. É o que também aconteceu com o grupo de samba Filhos de Dona Maria, que perdeu metade da renda mensal com o fechamento do Balaio Café, na 201 Norte. O grupo tocava todas as quintas antes de a casa ser fechada por não conseguir arcar com as multas.

Atualmente, grupo se apresenta no Círculo Operário, no Cruzeiro, ;o único lugar que sobrou;, lamenta Khalil Santarém, vocalista do Filhos de Dona Maria. Uma alternativa que funciona para eles, que têm certa estrada no samba em Brasília, mas que o vocalista não considera a mais viável. ;Nós tiramos o dinheiro do próprio bolso para organizar os eventos e arcamos com todas as perdas;, explica.

Carência de espaço

Separadamente, os integrantes também sofreram com as mudanças. Khalil tocava com frequência no Café da Rua 8, no Senhoritas e no bar Tartaruga, na Asa Norte. Todos fechados. ;Isso me afetou muito profissionalmente, porque foram os lugares onde aprendi a tocar, onde tive a vivência da rua, que é essencial;, queixa-se.

O Feitiço Mineiro, o Bar Brahma e o Bar do Ferreira, onde o percussionista Vinícius costumava se apresentar, tiveram de retirar as caixas de som após terem as programações musicais temporariamente suspensas. ;Você toca acústico em um ambiente que não é propício a esse tipo de show;, expõe.

Mais recente no cenário e com dois discos lançados, a banda de rock Marrakitá teve perspicácia e um pouco de sorte para ganhar o reconhecimento que alcançou em dois anos de estrada. O grupo gravou o primeiro álbum ao vivo e o lançou no YouTube para facilitar a divulgação do trabalho autoral.

Hoje, eles costumam fazer shows em teatros, porque ;é onde funciona melhor;, como explica João Pedro Mansur, vocalista e guitarrista da banda.Ele também é guitarrista e compositor da banda caloura CineMondatta, de rock alternativo. A bordo das duas, tocou nos extintos pub 10 0 13 e no Balaio, e lamenta a atual situação: ;A música autoral não encontra mais espaço em Brasília;.

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