Rebeca Oliveira
postado em 28/01/2016 06:01
Com estreia hoje, o longa-metragem de animação Anomalisa surge como representante de uma tendência consolidada entre os indicados ao Oscar na mesma categoria. São películas que, independentemente da técnica de desenho e finalização utilizada, se destinam a um público híbrido ou, em grande parte, se voltam a adultos, contrariando o senso comum de que esse tipo de produção é prioritariamente criado para crianças.
Dialogar com o público em narrativas que alcançam diferentes níveis é elemento comum no filme de Charlie Kaufman e de Duke Johnson e nos concorrentes na Academia, como O menino e o mundo (de Alê Abreu, único representante brasileiro na cerimônia), Divertida mente (já considerado uma obra-prima dos estúdios Pixar) e Quando estou com Marnie (do estúdio japonês Ghibli).
[SAIBAMAIS]
;A Pixar, por exemplo, tem esta dinâmica de trabalhar com camadas. Funciona bem para crianças, tanto que meu filho de 2 anos adorou Divertida mente, mas é superdenso em sua discussão, pode ser analisado da ótica da psicanálise. O que está acontecendo é que essa tendência está aparecendo mais, e o ano foi propício a esse tipo de produção;, pontua Fonteles.
;Quando falamos abertamente de algo, o ser humano tem uma tendência a se autorregular. O lúdico e a metáfora têm driblam essa resistência, vão direto ao ponto. Por isso, muitos diretores usam desenhos animados para falar de assuntos sérios;, acredita a psicóloga Patrícia Simone, que avalia a relação entre a psique e a sétima arte no blog Psicologia e cinema.
;Esta tendência de animações com temas duros, como a morte e a perda, questão em filmes como Procurando Nemo, é algo que observo há algum tempo. Eles tocam o inconsciente, não vão pelo caminho da lógica, pelo cognitivo;, avalia. ;Divertida mente, por exemplo, faz uma crítica sutil a esta era em que as pessoas não podem ficar tristes, tomam antidepressivos e se drogam para ficarem alegres, não enfrentam suas dores. De alguma forma, eles estão passando mensagens que servem a crianças, mas se prestam principalmente a adultos;, acredita a especialista.
Dicotomia
Marco na história recente da indústria cinematográfica, a categoria animação levanta a discussões desde 2001, quando foi criada. Um marco aconteceu uma década antes, quando, em 1991, A Bela e a fera foi premiado como melhor filme. Até então, poucas eram as animações que sobreviviam à esmagadora competição na mesma categoria. Há quem a veja como um trunfo para quem vive dos traços, e quem a veja como uma categoria subvalorizada e que diminui as chances de bons filmes de animação concorrem em outras categorias.
;Há, sim, uma dualidade. Divertida mente tinha chances de ser indicado como melhor filme, além de melhor animação, o que levanta dubiedade da categoria, tirando-lhe a chance de concorrer com filmes live action ou com blockbusters. Mas, ao mesmo tempo, abrem-se portas a filmes que não tinham tantas oportunidades de concorrerem, de aparecer, como O menino e o mundo;, afirma Maurício Fonteles. ;No Festival de Cinema de Brasília, aconteceu o contrário. Há uns dois anos, a categoria animação foi abolida;, lamenta o diretor da OZI Escola Audiovisual.