Uma rotina sem escolhas. Anos de privação e, ao sair, o dilema de ter que lidar com o preconceito e discriminação. A vida na cadeia é um temor e, socialmente, serve como garantia, na maior parte dos regimes democráticos, de manutenção da população dentro dos limites legais. No mundo real, essa realidade choca e causa temor. No entretenimento, por sua vez, fazem sucesso as atrações que têm a vida atrás das grades como elemento principal.
Os fãs aguardam, por exemplo, a chegada da 58; edição do Grammy 2016. Não são só os shows de Adele, Kendrick Lamar e The Weeknd que despertam ansiedade. A banda Zomba Prison Project, composta por presidiários do Malaui, país da África Oriental, concorre com o álbum I have no everything here (Aqui não tenho tudo, em tradução livre) como melhor disco de World Music. Preso por assassinato, nem o vocalista nem os demais membros do grupo, todos cumprindo pena, devem comparecer à premiação. Mas ficaram surpresos com a indicação e, curiosamente, conquistaram uma torcida internacional.
As faixas do primeiro e único disco da banda, gravado com instrumentos precários, como baldes de lavar roupa, refletem o dia a dia no cárcere e anseio dos prisioneiros, como a música Eu não mato mais.
A aparição do grupo no Grammy reflete uma tendência que, há anos, fascina diretores, produtores e espectadores. Na maior parte das vezes, o sistema carcerário é retratado com suavidade perto do horror relatado por quem já passou por uma cadeia. Em outras, se concentra na fuga do dos condenados.
[SAIBAMAIS]Esse contraste não preocupa a indústria do entretenimento. Na maior parte dos programas, não há interesse em mostrar um retrato fidedigno do que acontece dentro de uma cela, embora o caráter documental seja um dos segredos do sucesso de Making a murderer, série americana do Netflix que conta a história de Steen Avery, sujeito condenado por um crime que não cometeu. Depois de 18 anos preso injustamente e finalmente liberto, vira celebridade. Sem glamour, o documentário tornou-se um dos favoritos dos fãs de seriados policiais e projetou internacionalmente as diretoras Moira Demos e Laura Ricciardi, que trabalham em uma continuação dos 10 capítulos já exibidos no serviço de streaming.
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