Ambos nunca esconderam a admiração de um pelo outro. Crumb declarou sobre Bukowski: ;Para mim, ele diz as coisas como devem ser ditas. Creio que para ser artista ou escritor no mundo moderno é preciso uma forte dose de alienação. Se o sujeito é muito equilibrado, não tem nada interessante a dizer;. E Bukowski devolveu: ;Entre as pessoas que desenham existe energia e brilho. Uma das pessoas mais verdadeiras que conheci. Seria uma honra mágica que ilustrasse alguns de meus personagens barulhentos;.
A versão brasileira chega em sintonia com o momento de crise social e política que assola o país. Os contos versam sobre personagens desesperados, mergulhados em uma era de recessão econômica, fragilizados pela precariedade do trabalho, refugiados no álcool e no sexo, acuados por circunstâncias cerceadoras.
Os personagens de Bukowski são perdedores radicais em uma sociedade que cultiva, obsessivamente, a vitória e os vencedores; movem-se em uma atmosfera sufocante, são exasperados e fazem muito barulho. Crumb chegou a ser comparado a Rabelais e a Swift, a Brueghel e a Goya. Mas a comparação vale também para Bukowski. Em poucos parágrafos, ele delineia os personagens e a linha narrativa, com traços fortes, dramáticos, nervosos e de alta voltagem.
Bukowski tem uma visão muito pouco otimista da humanidade. Contudo, o humanismo se revela, paradoxalmente, no limite do patético. É o que vemos em Traz teu amor para mim, o conto que intitula a coletânea, em que narra a relação tensa entre Harry, um homem obcecado pelo sexo, e Glória, a sua mulher, internada para curar da dependência do álcool. Em meio à crueza, à violência e à agressividade dos diálogos, ela deixa escapar o que gostaria de receber de presente: ;Estarei aqui perto só por dois dias, Glória ; disse Harry com suavidade. ;Trago qualquer coisa que você quiser;. ;Traz teu amor para mim, então, ela gritou. ;Por que c... você não traz teu amor?;
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