Ao longo deste ano, o pianista e maestro João Carlos Martins encarou 178 apresentações, aos 75 anos. Ora regendo, ora tocando. As mãos debilitadas ; por conta de uma série de acidentes ao longo da vida, como uma queda em 1965 e uma agressão na Bulgária, em 1995 ; não o impedem de continuar vivendo em prol da música, mesmo depois de escutar tantas vezes que jamais voltaria a tocar. Estavam errados. Nem as 22 cirurgias foram capazes de deter o maestro, considerado um dos maiores intérpretes de Bach do mundo. Por meio da Fundação Bachiana, o pianista atende 6 mil crianças e serve de inspiração para cada uma delas, seja por conta do legado musical, seja por conta da resistência. Uma história de vida pautada pelo piano e por uma bela dose de episódios trágicos. Mas, acima de tudo, pela vontade em superá-los.
O que diria sobre nosso período atual?
A música é a régua do mundo. Se um governo vai bem, todos dizem: ;Esse governo funciona como uma orquestra;. Se 100 mil pessoas tomam as ruas, o governo diz: ;Isso foi orquestrado contra nós;. Por isso, digo que a música é a regra do mundo. A música traz um elemento chamado harmonia. E um país só sobrevive com harmonia entre os Três Poderes. Em um ano política e economicamente tão difícil como 2015, foram as artes seguraram o rojão.
O senhor prefere evitar assuntos políticos, mas poderia nos contar um pouco sobre sua visão acerca da política cultural do governo?
Nunca votei no PT, mas tenho esperança de que o Juca Ferreira possa conduzir um trabalho na democratização das artes por todos os rincões deste país. Que a arte não se restrinja a uma elite. O governo não precisa assumir esse papel de agente cultural, apenas prover a estrutura. Deixe que os agentes culturais atuem por si próprios. Cabe ao governo não os atrapalhar, oferecendo estrutura somente.
Como estão as mãos?
Eu cheguei a fazer 21 notas por segundo. Hoje, brinco que demoro 21 segundos para fazer uma nota (risos). Mas faço com o mesmo amor. Recentemente, eu e o Arthur Moreira Lima revivemos um concerto que fizemos há 30 anos, em Nova York. Arthur disse: ;Com dois ou quatro dedos, o João Carlos toca melhor que a maioria dos pianistas que conheço;. A verdade é que, e digo isso com humildade, meus sonhos no piano seguem com o Arthur Moreira Lima.
[SAIBAMAIS]É verdade essa história de que o senhor chegou a decorar 5 mil páginas de partituras, já que há uma dificuldade em passar as páginas enquanto toca?
Eu cheguei a decorar 10 mil páginas. Agora mesmo, durante o último voo, comecei a decorar 59 páginas para um próximo concerto.
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