Foi preciso um processo de depuração para chegar aos poemas visuais de Taturama. Há muito Felipe Fortuna queria fazer poesia visual, mas sempre se encontrava preso à ideia de que o gênero precisava seguir os ditames proclamados pelo movimento concreto nos anos 1950. ;Sempre pensei em fazer, mas nunca aconteceu porque a poesia visual no Brasil está muito relacionada ao movimento concreto. Mas a poesia visual tem, pelo menos, 3 mil anos. Tem elementos dela até no Egito antigo. Quando me libertei da ideia de que esse tipo de poesia só existia no concretismo, consegui fazer;, conta.
[SAIBAMAIS]
Liberto de conceitos e modelos, Taturama é um conjunto muito livre de versos que refletem sobre todo tipo de temática. Há política e humor, mas também algum lirismo e um pouco de romantismo nos versos de Fortuna. Eventos políticos recentes ou mais distantes inspiraram versos como os de Elos de corrente, que trata das manifestações de 2013, e Tabela do campeonato, que relembra os momentos mais violentos da ditadura militar. A pátria verás é um trocadilho entre versos de Olavo Bilac e do Hino Nacional, e a especulação financeira ganhou uma crítica em Ganhei (perdi) meu dia.
Até Augusto dos Anjos entrou para o universo de Fortuna: Eu é uma versão em poesia visual de alguns versos do poeta simbolista. ;Ele era um tremendo poeta visual. Quando leio os poemas dele fico muito impactado pela imagem a que me remetem. Ferreira Gullar diz que Augusto dos Anjos é um poeta muito táctil, e eu concordo, mas também acho que ele é muito visual;, diz Fortuna.
Taturama foi concebido ao longo de um ano, quase que instantaneamente. ;Os poemas foram surgindo uns após os outros como seu estivesse participando de uma sessão espírita;, brinca o autor. A tecnologia ajudou muito a dar forma ao conjunto com mais rapidez. Programas de design gráfico facilitaram o processo. Agora, Fortuna quer ir além do papel e testar a capacidade de dar movimento aos poemas graças a programas de computador próprios para animação.
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