<p class="texto"><img src="https://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2015/12/13/510349/20151211172552801450o.jpg" alt="O músico comenta o momento atual do país: "É de pressão, materialmente falando, ideologicamente falando, ta todo mundo meio que no limite"" /> </p><p class="texto">;Vê lá como vocês vão escrever o que eu disse, hein?;, brinca BNegão, com certa dose de seriedade, ao término da entrevista concedida na redação do Correio. Bernardo Santos, nascido e criado no bairro carioca de Santa Tereza, não gostava de falar com jornalistas no início da década de 1990, quando despontou com a tão polêmica quanto querida banda Planet Hemp. ;Eu dizia A e os caras publicavam B.; A primeira vez que o músico leu uma entrevista e ficou satisfeito ;porque o sujeito não havia mudado uma palavra; do que ele tinha dito, não se conteve e ligou para agradecer ao responsável por um zine do Rio de Janeiro sobre música underground. Do outro lado da linha estava um sujeito alto, bem magro, cujo o grupo viria a fazer um megassucesso com o hit Anna Júlia. ;Até hoje, quando encontro Marcelo Camelo lembro dessa história;, conta o Bernardo. Apesar das letras extremamente politizadas (;Não sei fazer música de outra forma;), das rimas pesadas e do semblante fechado no palco, BNegão é gente fina e de riso solto, principalmente, quando lhe escapa algum detalhe de um dos milhares de ;causos; que gosta de contar. ;Eu tenho memória jamaicana;, gargalha. Com um som mais experimental, BNegão divulga o terceiro disco d;Os Seletores de Frequência, TransmutAção. Na entrevista abaixo, ele fala sobre música, drogas e política.<br /><br /><strong>O novo disco, TransmutAção, tem uma sonoridade muito espontânea. Como foi o processo de composição e produção deste trabalho?</strong><br />Nós somos uma banda que se dedica à música negra universal. Trabalhamos com a música que sai da matriz africana e que se espalha pelo mundo inteiro. É o que conhecemos e conseguimos fazer bem. Dentro desse universo, há muitas sonoridades diferentes e não deixamos de fazer um som porque alguém vai entortar a cabeça e não saber como categorizar. O cara pode querer escutar um disco de rap, mas tem samba jazz, umbanda... A gente simplesmente faz. Acho importante a criação. Se por acaso eu cismar de fazer um disco que é fácil de colocar em uma prateleira, vai ser porque eu quero fazer esse disco. Essa junção de estilos diferentes é natural para mim. Tanto no mesmo disco como, às vezes, até na mesma música.<br /><br /><strong>Antes do TransmutAção, vocês estavam trabalhando em um projeto instrumental. Como essa ideia influenciou no novo disco?</strong><br />Influenciou, primeiro, na música Surfin Astatke, que foi feita sob uma escala da região da Etiópia, totalmente diferente do que usamos por aqui. Fita amarela, outra música do disco, por exemplo, vem do meu trabalho com discotecagem, que é mais uma vibe de gafieira, e é uma versão que eu sempre quis que existisse. Acho que é esse o princípio básico da criação: é pensar em uma coisa que você queira, e se essa coisa não existe, então você vai buscar fazer com que ela exista.<br /><br /><strong>Saindo um pouco da questão da música, você sempre foi um artista que nunca fugiu de perguntas sobre política, questões sociais;</strong><br />Na verdade, foi isso que me fez entrar na música, ser artista. Aliás, essa palavra eu nem gosto muito. Hoje em dia, artista lembra muito mais alguém que está no Big Brother do que alguém pertinente. Eu sempre fui muito conectado à estética do rap, desde os 9 anos de idade, e já balbuciava as palavras, tentando fazer igual. Mas a minha ligação com a retórica da coisa foi com o punk rock nacional: Cólera, Ratos de Porão, Inocentes. Foi a primeira vez que eu ouvi alguém falando sobre coisas que me representavam, críticas ao governo, igreja etc. Ajudou também o fato de eu ter vindo de uma família de ativistas. Por isso eu nunca perdi o foco do que eu tava fazendo na música, tentar alguma mudança. E tenho respostas diárias do Brasil inteiro, gente me agradecendo dizendo que, ;no meio dessa confusão toda, o som ajuda a gente a manter a cabeça no lugar, apresenta um ponto de vista diferente;. Hoje em dia, a gente está em uma época muito louca em relação a isso, todo mundo tem um ponto de vista único, isso é o fim.<br /><br /><strong>E como falar de política, hoje em dia, evitando esse ponto de vista único?</strong><br />Acho que, como tudo na vida, o importante é tentar ter uma visão mais ampla possível dos assuntos. E pensar também não dói! O momento do mundo é de pressão, materialmente falando, ideologicamente falando, ta todo mundo meio que no limite. A única chance de você sair desse Fla x Flu é parar para pensar mais amplamente, desde as origens, para entender o que a gente ta fazendo aqui. E a arte ajuda nisso. Tanto para jogar uma ideia diferente quanto para pensar, ;pô, eu não estou sozinho aqui;. Eu entendo quem ache que arte deve ser só entretenimento, mas uma coisa não exclui a outra. Dá para ir a um baile, dançar e escutar uma ideia diferente, aprender alguma coisa.</p><p class="texto"> </p><p class="texto">A matéria completa está disponível <a href="http://publica.impresso.correioweb.com.br/page,274,41.html?i=191241=da_impresso=da_impresso_130686904244">aqui</a>, para assinantes. Para assinar, clique <a href="https://www2.correiobraziliense.com.br/seguro/digital/assine.php">aqui</a>. </p>