Gregor Samsa, um caixeiro-viajante, despertou transformado em um inseto asqueroso. Poderia ter sido uma noite ruim, com fortes pesadelos, mas não foi simplesmente um sonho. Suas costas estavam duras como um casco e as pernas miseravelmente finas, numa verdadeira desordem biológica. Foi assim que Franz Kafka marcou a literatura mundial dando início ao livro A metamorfose, um dos seus mais famosos.
A obra foi finalizada em 7 de dezembro de 1912 e publicada há 100 anos, em 1915. A ficção até hoje desperta interesses e causa incômodos nos leitores. Kafka conseguiu sintetizar a obra em poucas páginas, relatando a história de Gregor com muita ironia.
Ao mesmo tempo em que o personagem acorda sendo um inseto monstruoso, ele demonstra a preocupação em estar atrasado para o trabalho. Durante a narrativa, sua família passa por diferentes processos, entre susto, aceitação, compaixão e ódio. O bicho em que Gregor se transforma seria uma imagem do próprio Kafka, que também sofrera humilhações por ter se transformado em alguém que não gostaria ou por ter problemas intensos com sua família.
Mundo mágico
Existem vários ensaios para tentar entender o clássico. José Anchieta de Oliveira, filósofo e crítico literário, analisa que A metamorfose não foi uma história nova, ;essas narrativas antigas já estavam presentes nos contos de fadas, até na Odisseia, de Homero. No entanto, essas metamorfoses são reversíveis. Aceitamos que um sapo se transforme num príncipe e o príncipe no sapo, por exemplo;. Mas, segundo ele, a estratégia kafkaniana traça a distinção clara entre o mundo mágico e o conhecido pelo leitor. ;Kafka escancara e assombra a alienação do ser humano moderno, tocando no fundo da alma, revelando como o ser está separado de si mesmo. Foi um autor que antecipou em sua escrita o universo concentracionário, violento, metodicamente fascista, cultor da morte e da opressão; representa um escritor brilhante e surpreendente.;
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