Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Catálogo faz revisão completa da obra de Vik Muniz

Publicações tem 900 páginas divididas em dois volumes e abrange produção de Muniz desde os anos 1980

Vik Muniz queria que as imagens fossem objeto de estudo tão sério quanto a gramática. Ele se sente um pouco como um gramatólogo de imagens. Desde que adotou a fotografia como suporte para sua expressão artística, tenta compreender e estudar qual o significado e a importância das imagens na sociedade contemporânea. Isso fica claro nas 1900 reproduções distribuídas pelas 900 páginas dos dois volumes de Vik Muniz: tudo até agora ; catalogue raisonné 1987-2015, que o artista lança na próxima quinta (10) no Brasil. Editado pela Capivara e com textos de Ligia Canongia e Pedro Correa do Lago, proprietário da editora, além de entrevista concedida a Luisa Duarte, o catálogo retoma desde os primeiros trabalhos, datados de 1987, até o mais recente, o barco idealizado para flutuar no Grande Canal de Veneza na Bienal deste ano, obra destinada a chamar a atenção para o problema da imigração.

Vik Muniz é um pensador da imagem. O homem aprendeu a consumi-la e a enxergar o mundo por meio dela, mas, ele acredita, nunca aprendeu a realmente lê-la. ;Qual a importância de saber ler uma frase? Você entende aquilo como um mecanismo, um sistema que envolve uma manipulação de partes e evoca uma retórica;, explica o artista, em entrevista pelo telefone do Rio de Janeiro, onde passa 60% do tempo (os outros 40% ficam para Nova York, onde se dá a parte prática da criação). ;A gente não tem esse tipo de consciência em relação à imagem. A imagem aparece muito monolítica. Com o aprimoramento da técnica, da tecnologia, ela se torna cada vez mais eloquente, fluida, fácil de consumir, mas nosso discernimento de como pensar a imagem, para isso a gente não tem o menor incentivo.;

Mostrar o processo de criação dos trabalhos é um dos primeiros passos para a reflexão, por isso Vik Muniz investiu tanto tempo no catálogo, o segundo da carreira. Em 2006, o artista lançou um livro no qual pretendia abranger uma parte da obra. Na ocasião, não conseguiu incluir os trabalhos dos anos 1980, entre os quais objetos, instalações e esculturas que precedem a fotografia, hoje suporte principal da produção de Muniz. Dessa vez, é possível acompanhar como o artista passou da tridimensionalidade para as séries que o tornariam conhecido a partir dos anos 1990, como as fotografias de algodão, os desenhos sobre areia e com arame.

[SAIBAMAIS]Os enormes retratos realizados com chocolate, pasta de amendoim, diamantes, lixo e uma variedade enorme de materiais facilmente reconhecíveis pelo público estão ancorados em experiências que começam com esculturas em madeira, instalações de paredes e ready mades nascidos de apropriações. Muniz veio da publicidade e nunca teve nenhum preconceito em encarar a imagem a partir de uma perspectiva midiática. Quando descobriu os trabalhos de Jeff Koons e Cindy Sherman em Nova York, para onde se mudou na década de 1980, percebeu que havia um caminho na seara da exploração da fotografia, sobretudo aquela recheada de símbolos e ícones para lá de desgastados. Foi a senha.

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