Jornal Correio Braziliense

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Percussionista Nãnan Matos fala sobre preconceito e cena brasiliense

%u201CFui aprendendo a reconhecer a importância de Brasília. É uma cidade nova, entendi que precisava ter paciência, como tenho que ter comigo em relação ao processo cultural", afirma a cantora


A brasiliense Nãnan Matos há oito anos se dedica ao mundo da música, quando começou a atuar como percussionista profissional. Neste ano, a artista agarrou de vez a missão de cantora com o show Ma Binu, apresentado pela primeira vez dentro da programação do festival Ser Negra, realizado no início do mês. ;Quero aprofundar a gestão da minha carreira como cantora. Meus projetos principais são circular com o show e com o musical Tradição viva, além de poder voltar a dar aulas regulares de dança e percussão africana;, afirma.

[SAIBAMAIS]Seu trabalho é dedicado, principalmente, em valorizar a cultura afro-brasileira. Além disso, luta ao lado de outros artistas da cidade, por meio do coletivo Do Quadrado, para intensificar a produção cultural brasiliense. ;Fui aprendendo a reconhecer a importância de Brasília. É uma cidade nova, entendi que precisava ter paciência, como tenho que ter comigo em relação ao processo cultural. Somos artistas produtores independentes. O que a gente precisa é de público;, destaca. Ao Correio, a artista fala sobre a carreira, os preconceitos por ser uma percussionista mulher, como percebe o processo criativo em Brasília e, claro, negritude.

Como a percussão surgiu na sua vida?
Já conhecia a música tradicional do oeste africano. Há mais ou menos oito anos, decidi que queria estudar mesmo isso. Antes disso, eu já tinha um berço cultural nessa vertente, porque fui criada em um terreiro e meus pais tinham uma instituição, Comunidade Praia Verde, em que eles davam oficinas para meninos de rua, tinha um bloco de percussão afro-brasileira. Cresci assim, mas me assumi percussionista quando decidi sair da Escola de Música de Brasília para pesquisar a música africana.

Quais são os desafios de seguir por um caminho que não é tão comum?

Uma das maiores barreiras foi a questão de gênero, a percussão é vista como uma atividade feita por homens. São eles que são os grandes percussionistas. Hoje em dia, as pessoas ainda acham que é um fetiche, que é exótico ter uma mulher percussionista. Mesmo dentro de algumas tradições do candomblé e do terreiro, as mulheres não tocam atabaque. Elas foram criando um distanciamento. Só que hoje a gente tem um entendimento de que a mulher pode estudar e ser percussionista profissional. Não é um instrumento que precisa de força, mas técnica. Escuto muitas vezes os homens falando: ;Com essa mãozinha tão pequena, como pode tocar tanto?; E isso é uma expressão machista, como se precisasse transparecer uma brutalidade, enquanto é a sensibilidade que demonstra a musicalidade.

Como derrubar esse preconceito dentro da tradição do instrumento?
Eu trabalho muito contra isso. Dou oficinas de percussão africana e uma das oficinas é diambê, o tambor principal como empoderamento da mulher. Muitas alunas que eu tive fizeram a oficina porque é uma mulher profissional que dá aula. Muitas contam que o irmão, o pai, os amigos diziam que era coisa de homem. Quando elas veem que tem uma mulher ensinando, não se sentem mal. Cada vez mais as mulheres estão tocando percussão.

Além de percussionista, você também é cantora, dá aulas. Hoje, você consegue viver só da música?
Faço muitas coisas, como boa geminiana (risos). A minha prioridade hoje é a música. Há um tempo, eu me identificava apenas como percussionista, mas hoje tenho um show e estou levando a sério a gestão da minha carreira como cantora. Outra coisa que é prioridade é o meu trabalho social de divulgação da cultura de matriz africana, mas, para isso, preciso de estrutura, porque não sou de uma família rica. Tenho formação em comércio exterior, mas trabalho como massoterapeuta, que é uma troca muito interessante e um caminho para poder ter uma flexibilidade de horários e ter uma renda.

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