Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Filme pioneiro promete revolucionar o método de interpretação dos atores

A partir do uso de uma androide em cena, Sayonara, do japonês Kôji Fukada, calibra discussões sobre atuações no cinema

Quase 50 anos depois do marco do clássico 2001 -- Uma odisseia no espaço, o contato entre humanos e
robôs segue instável, ao menos no cinema. Para baratinar ainda mais o circuito, temos o recém-surgido
Sayonara, de Kôji Fukada, que traz entre as protagonistas nada menos do que uma personagem robô.
Leona é vivida pela androide Geminoid F, protótipo de encomenda para o engenheiro e cientista Hiroshi
Ishiguro. Na trama, ela cuida de Tania, personagem humana largada à própria sorte, numa fazenda, pós-
desastre nuclear.

Superando as adaptações para as telas da literatura de Isaac Asimov (de Eu, robô e O homem
bicentenário
), Fukada complica o meio-de-campo entre expressão, personagens e atores. Sayonara
vem para quebrar paradigmas de filmes como Blade Runner -- O caçador de androides (de 1982, e baseado
em livro de Philip K. Dick) e mesmo Metrópolis, de 1926, em que Maria (interpretada pela atriz Brigitte
Helm) saúda a existência do coração humano, em contraponto à lataria e a funcionalidade dos robôs.
Em perspectiva, tendo em vista inovações de filmes como Ela (com Scarlett Johansson) e AI -- Inteligência
artificial
, fica risível pensar na projeção feita pelo cientista de computação Jaron Lanier, que previa nos
anos de 1990, pelo menos um século, para que a confusão entre realidade virtual e realidade verdadeira
se efetivasse.


Só de memória, dá para lembrar de Hulk (2003), assinado por Ang Lee, e criado para as telas, de modo
instantâneo, pelos esforços dos aparatos digitais da Industrial Light & Magic. Bem longe dos primórdios
de Tron (1982), a associação entre cinema e futuro foi potente em O passageiro do futuro (1992), que,
por meio de animações, antecipava os jogos de realidade virtual, com um jardineiro assumindo condição
de cobaia, em experimentos do mestre, o Dr. Lawrence Angelo (Pierce Brosnan).

Sayonara, de certo modo, se incorpora a ápices de transformações cinematográficas, antecedido por
experiências como O dia em que a Terra parou (1951), Westworld -- Onde ninguém tem alma (1973),
RoboCop
(1987 e 2014) e as séries O Exterminador do Futuro e Transformers. Para as mulheres,
restam, no cinema, protótipos sexistas, vistos em Esposas em conflito (1975) e Mulheres perfeitas (2004).
E lá se vão seis anos desde a revolução de Avatar, proposta por James Cameron, além da roda girada, há
14 anos, com o Gollum criado pelo ator Andy Serkis para O Senhor dos anéis.