Se passaram exatos trinta anos desde que o icônico Freddy Mercury abriu o primeiro Rock In Rio. Na celebração das três décadas de festival, nada mais auspicioso do que fechar o primeiro dia do evento com a banda que o abriu: Queen. Neste ano, no entanto, a falta do mestre do Glam rock, morto em 1991, foi percebida, mas não da forma que muitos acreditavam. O mundo viu com a apresentação de Adam Lambert, a existência de outros reis, que já foram coroados pelo público como os divos do mundo da música.
;Vocês amam Freddie Mercury? Eu o amo, e se não fosse por ele, não teria a menor ideia do que fazer aqui em cima;, disse Adam ao público médio de 80 mil pessoas na primeira noite do Rock in Rio 2015. O cantor substituiu de forma digna o antigo vocalista da banda que marcou gerações. Elogiado pela crítica, Adam não só cantou e dançou, ele foi quem era - gay. Com cinco trocas de roupas, indo do couro ao jeans, o ponto alto do glamour esteve no look oncinha com uma grande coroa dourada de rainha - nome da banda em português.
No mesmo festival, pouco mais de uma semana depois, outro rei. Sam Smith, com 23 anos, assumiu ser gay assim que lançou o primeiro álbum, no ano passado. Com apenas um disco, foi vencedor de quatro Grammys e dos prêmios Critics; Choice Award do Brit Awards e a Sound of 2014 da BBC, e seu hit Stay with me ficou entre os Hot 100 da Billboard e música do ano. O inglês também assinou no último mês a música tema do novo filme do 007, que está para estrear.
Durante o show, em meio a sorrisos e brincadeiras, Sam contou o que todos já sabiam. ;As músicas do meu CD foram escritas para um rapaz que eu amei e que partiu meu coração;, justificando as letras tristes. Para se inspirar para um novo disco, uma promessa: ;Vou beijar muitos rapazes para escrever mais;.
Representatividade
Segundo a professora da Universidade de Brasília, Valdenízia Bento Peixoto, coordenadora do grupo Sexuss (sexualidade no serviço social), a representatividade é muito importante. ;Antigamente, jovens e adultos gays não tinham referencial. Não existia um modelo diferente de sexualidade, alguém que representasse a pluralidade de gênero e sexualidade; diz. A professora acredita que o mundo está abrindo os olhos para o tema, mas o conservadorismo cresce em resposta a isso. ;É fundamental que a arte tenha esse papel na militância pela representatividade gay;, conclui.
[SAIBAMAIS]A opinião de quem é fã e esteve nos shows também é a mesma. Douglas Borges, estudante de biblioteconomia na UnB, esteve no Rock in Rio. ;Eu acredito que na sociedade em que vivemos as minorias não querem mais se esconder, elas demandam uma mudança de pensamento social, e ter artistas assumidamente gays, é não só um resultado disso, como também um passo importante para que isso ocorra;, defende. O brasiliense acompanhou os shows no Rio e voltou mais confiante. ;O meio artístico sempre foi um formador de opiniões. É incrível que os jovens gays de hoje tenham figuras públicas para se inspirar, se identificar e para olhar para eles e pensar "se o Adam Lambert pode se abertamente gay e ser feliz, aceito e bem sucedido, eu também posso. É uma forma de empoderamento;, acrescenta.
Não são só os estrangeiros que fazem parte dessa luta pela visibilidade. Aqui no Brasil, nomes tem surgido no contexto cultural e abordam de forma clara a sexualidade, seja nas composições, clipes ou shows.
Thiago Pethit
O paulista de 31 anos tem dois discos lançados e faz o estilo subversivo. Em suas letras e clipes, a sexualidade é apresentada de forma livre. Nus, femininos e masculinos, cenas de sexo e a profunda relação do ser humano com o corpo. ;A sexualidade é importante como elemento de linguagem. Ela é como sua cor, seu peso. Está intrinsecamente ligado a quem você é;, diz.
Apesar de ser assumidamente gay, Thiago trabalha a liberdade com relações gays e heterossexuais. No clipe de Moon, música do primeiro CD, o protagonista experiência relações sexuais com outros homens. ;Eu gosto de trabalhar esse tema como uma forma de liberdade. O que o clipe tenta dizer é que ser gay, ali, pode ser libertador;, explica.
No quesito representatividade, Thiago concorda. ;É importante que as minorias apareçam, que elas tenham rostos, nomes. Sejam figuras de destaque;.
Filipe Catto
Caso não conheça pelo nome, com certeza reconhecerá pela voz. O gaúcho, radicado em São Paulo, de 28 anos, é responsável pela música Saga, trilha sonora da novela Cordel encantado; por Adoração, do remake de Saramandaia; e ainda por Flor da idade, que estevem em Joia rara. Todas essas novelas da Rede Globo.
O cantor, sai um pouco do pop e faz sucesso na MPB, sendo chamado, a contra gosto, de ;o novo Ney Matogrosso;. Com dois discos de estúdio e um CD e DVD ao vivo, Filipe Catto faz sucesso sobre os palcos pelo Brasil. Em seu último lançamento, no álbum Tomada, o artista tem parcerias com Moska, Marina Lima e Caetano Veloso.
Johnny Hooker
Em plena ascensão na carreira, o novo sucesso do pop/MPB brasileiro vem com androginia e muita atitude. Recentemente em Brasília, Johnny Hooker é além de cantor e compositor, ator e roteirista. Foi vencedor do Prêmio da Música Brasileira como Melhor Cantor na categoria Canção Popular e também está presente nas trilhas sonoras de novelas da Globo. Volta, no filme Tatuagem; Amor Marginal, trilha da novela Babilônia; e Alma Sebosa na novela Geração Brasil, na qual Johnny interpretou o personagem Thales Salgado.
Seu primeiro disco solo, Eu Vou Fazer Uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito! foi número 1 no chart MPB do iTunes Brasil e alcançou primeiro lugar na plataforma de streaming Deezer.