Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Amigos e familiares relembram a relação de Reynaldo Jardim com Brasília

O inventor do jornalismo cultural brasileiro morreu em 2011, aos 84 anos, na capital federal


Uma única noite por aqui foi o suficiente para Reynaldo Jardim se apaixonar por Brasília. Apesar de a beleza da cidade ter verdadeiramente deslumbrado o poeta, ele dificilmente teria tido opinião contrária, conforme se descobriu anos depois. De alguma forma, ele recebeu um certo estímulo naquele primeiro dia na capital do país: ;Assim que desembarcou, foi para uma festa na casa da Cristina Roberto. Lá, tomou um ponche. E achou tudo lindo. Pois, não faz muito tempo, descobri que, na verdade, aquele ponche estava ;batizado;;, conta, aos risos, a viúva de Rey, Elaina Daher.

[SAIBAMAIS]A anfitriã Cristina ainda se lembra do episódio. ;Ele acabou dormindo no sofá. Acordou às 7h e foi, descalço, claro, comprar pão na W3;, recorda. O mais irônico nessa anedota, como enfatiza Elaina, é justamente o fato de Reynaldo não ser um grande apreciador de bebidas e similares. ;Ele era doido naturalmente. Eventualmente, tomava uma caipirinha de rum, que durava a noite toda.;

Realmente, bares nunca foram o forte de Reynaldo Jardim. Uma contradição ao arquétipo boêmio de poeta e jornalista, ofícios que Rey acumulava. Na poesia, o paulista-carioca-candango deixou obras cânones e referenciais como a militante Maria Bethânia guerrilha guerreira e o calhamaço Sangradas escrituras. No jornalismo, tornou-se figura reverenciada ao criar o primeiro caderno de cultura da imprensa brasileira, o Caderno B, do Jornal do Brasil. No próprio JB, editou ainda o Caderno de Domingo e o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, o mais influente caderno cultural da história da imprensa brasileira

Posteriormente, seria abraçado pela intelectualidade contestatória e pelos estudantes universitários por conta do lançamento do jornal-escola O sol, que circulou como encarte do Jornal dos Sports, editado por Mário Rodrigues, irmão de Nelson Rodrigues. Entre outros, o jornal contou com a colaboração de Carlos Heitor Cony, Ruy Castro, Ziraldo, Nelson Rodrigues, Arnaldo Jabor e Henfil. Durou pouco, mas fez história.

>> Depoimento // Alisson Sbrana

O cineasta paulisa Alisson Sbrana teve o privilégio de conviver intensamente com Reynaldo Jardim durante os últimos anos de vida do jornalista e poeta. Primordialmente por conta do curta-metragem Profana Via Sacra, que mergulha por entre a obra, a genialidade e a poesia de Rey. O curta foi apresentado, e premiado, na 43; edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2010. Uma das últimas colaborações culturais de Reynaldo, que morreria no ano seguinte. Felizmente, ele foi à exibição do filme no Cine Brasília e pôde ser longamente aplaudido.

Convivi com o Rey por pelo menos 5 anos. Nunca aprendi tanto, nunca vou aprender tudo. Uso frases do Rey o tempo todo e sempre cito: "Como o Rey costumava dizer, ou como diria Reynaldo Jardim...". Frases como a brilhante constatação:"Somente dois tipos de pessoas deveriam contemplar obras de arte: as crianças e os turistas. Porque eles olham para tudo deslumbrados"


Uma coisa muito interessante sobre as andanças do Rey em Brasília: ele andava quase sempre descalço. Era comum vê-lo na W3 descalço comprando frutas, quando ele morava ali na Asa Norte. Também era comum sair com ele e as pessoas o pararem na rua, o abraçarem e o agradecerem por alguma coisa. E ele não desconfiar quem era.


Quando chamei o Vladmir Carvalho para fazer uma aparição no filme, eu não o conhecia pessoalmente, muito menos ele a mim. E falei e falei... E ele: "Mas sobre quem é o filme?". "Sobre Reynaldo", respondi. E ele: "Não precisava ter falado nada, se é sobre Reynaldo Jardim eu desmarco os compromissos e vou". Quando tentei filmar no Cine Brasília havia muitos empecilhos. "Mas é um filme sobre o Reynaldo". E me responderam: "Ah, porque não falou antes? "Pode usar quando você quiser".

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