Ela é brilhante no palco e fora dele. Denise Stoklos teve uma rápida conversa com o Correio ainda no Aeroporto de Congonhas (SP), depois de participar do ciclo Ato Criador, no Oi Futuro, no Rio de Janeiro. Falou da paixão pelo circo, dos clowns, de atores como Oscarito, Grande Otelo. Foram personagens como esses que fizeram a menina Denise, ainda na pequena Irati (PR), decidir que o teatro seria a sua vida. ;O teatro é uma necessidade humana muito profunda, ancestral. Pode ser que no futuro, seja a arte mais vanguardista;, destaca ela sobre a ;concorrência; com o mundo tecnológico.
Cada vez mais, as crianças brasileiras estão ficando longe da dramaturgia, da dança e das artes, de modo geral. O que pode ser feito para reverter esta tendência?
Está tudo mais distante das crianças. Estamos subjugados por um sistema globalizante, capitalista, patriarcal e fortemente repressor diante de qualquer expressão original. Por isso, fica tudo comprometido. Nós não temos uma sociedade sadia. As crianças, os adultos... Todos ficam em xeque. É nessário investir em cultura já nos primeiros anos de escola. Como faço com o Teatro Essencial, que se dedica a reproduzir no palco alguma coisa que possa trazer aquilo que é próprio da natureza humana... Para que a plateia, ao assistir à apresentação, tenha uma nova oportunidade, de forma a chegar mais perto do amor e da liberdade.
[SAIBAMAIS]
Quando e como decidiu seguir a carreira artística?
Desde os 7 anos, a idade da razão, fui percebendo que minha noção de estar viva era a possibilidade de transmitir para as pessoas algumas coisa que me sensibilizasse. Naquela época eu ia muito ao circo, assistia aos filmes da Atlândida... Fui me idenficando com os atores que se apresentavam no picadeiro e nas telas de cinema, muitos eram clowns, e clowns são mambembes, não pertecem a classe social nenhuma, por isso fazem piada de tudo. Tive uma identificação muito grande. A gente deve muito aos Oscaritos, Grande Otelos, esse pessoal todo que foi criando gerações de clowns. Assistia a isso tudo no interior do Paraná, numa cidade chamada Irati. Foi lá que tive esse insight de que meu papel social também seria fazer teatro.
Hoje em dia, o circo ainda é importante para a formação de um ator?
Estou falando daquele circo muito precário, o circo atual é diferente, essa situação mudou. Hoje em dia eles ganharam mais recursos e expressões cênicas. Por isso, o clown a que me refiro não existe mais como referência hoje em dia.
Pra você, o que é criatividade?
São as pequenas e grandes resoluções que uma pessoa aplica diante dos embates que encontra. É um grande exercício de criatividade. Muitas vezes, ela é contida por um sistema repressor.
Fale um pouco da gênese do Teatro Essencial, do Manifesto do Teatro Essencial e como ele transcendeu as fronteiras brasileiras...
Saí de Irati com uma vontade de contar aos outros tudo que me tocasse emocionalmente, intelectualmente... Precisava ter meios para expressar isso. Fui em busca de técnicas, trabalhei com grupos, com Antunes Filho, Ademar Guerra, Fauzi Arap, Luís Antônio Martinez Corrêa, Antônio Abujamra, principalmente... Finalmente, cheguei à ideia de contar, eu mesma, as histórias e os temas passados nos palcos. Foi aí que criei, em 1987, o espetáculo Mary Stuart, meu primeiro solo, e que coincidiu com o lançamento do Manifesto do Teatro Essencial, em que coloco minha determinação de fazer um teatro engajajdo nas questões do homem... O ser humano em qualquer lugar é o mesmo, não é o ego a perspectiva do universo, somo apenas um. A natureza humana sente e reage igual às mesmas questões de amor e liberdade. Não importa que a plateia seja, de Brasila, do Rio de Janeiro, de Buenos Aires ou da China... A gente é um só.
Chaplin sempre teve medo de dar voz a Carlitos, temia que seu clown falando inglês afastasse o público de outras línguas. O corpo ainda é o principal instrumento de expressão do mundo?
Totalmente. A corporalidade é o lugar em que existe verdades incontestáveis. É por meio do corpo que nós somos totalmente reais. Não dá pra mentir. É importante a representação que o corpo faz. É o basal. No meu teatro a gente foi indo para o corpo, a voz e o terceiro elemento, que é o intelecto ; a memória, as emoções ; tudo isso faz parte da dramaturgia. Mas o corpo é o preponderante.
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