<p class="texto"><img src="https://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2015/10/05/501187/20151004110834617828o.jpg" alt=""Então o indeterminismo que é consequência da física quântica afeta pensamentos filosóficos%u201D, Rogério Rosenfeld" /> </p><p class="texto">Houve uma época na história da humanidade em que ciência e filosofia eram indissociáveis. Para Stephen Hawking, o diálogo entre os dois anda mal das pernas e pior ainda estaria a conversa entre filosofia e física, já que a primeira não teria acompanhado o progresso da segunda. O poeta e filósofo Antônio Cícero discorda de Hawking. ;Ainda penso que não é a física que reflete sobre a física, mas a filosofia, pois é ela que pensa sobre as condições universais de possibilidade do conhecimento. Quando Hawking diz que a filosofia morreu, ele não está pensando como físico, mas como filósofo, e como mau filósofo, pois nem sequer percebe que está a se contradizer;, diz Cícero, que estará hoje em Brasília para participar do ciclo Arte, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), ao lado do físico Rogério Rosenfeld.<br /><br /><span style="font-style: italic">"Então o indeterminismo que é consequência da física quântica afeta pensamentos filosóficos;</span><br />Rogério Rosenfeld, Físico<br /><br />O físico e o filósofo contarão com mediação do poeta Nicolas Behr para um encontro no qual a polêmica pode ter lugar marcado. Especialista em fenomenologia de partículas elementares, autor de O cerne da matéria e diretor do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista, Rosenfeld é desconfiado quando se trata de filosofia. Para ele, pensar sobre a origem da matéria e das partículas que formam o universo não traz, necessariamente, um questionamento filosófico. ;Fico me perguntando se essas questões trazem alguma coisa filosófica. Nós, físicos, gostamos de pensar que existem constituintes fundamentais na natureza. Não sei se é uma corrente filosófica, mas somos reducionistas, gostamos de checar no âmago das coisas e checar quais são os elementos mais básicos e elementares possíveis. Não sei se isso é filosofia;, diz.<br /><br /><span style="font-style: italic">"Seria interessantíssimo saber como seriam os seres vivos de outro planeta;</span><br />Antonio Cícero, poeta e filósofo<br /><br />Durante o encontro, Rosenfeld vai falar sobre o que chama de questões básicas. O que significa o saber, o que se quer saber sobre a natureza e o que vai orientar o físico. Do que é feito o universo, quais são seus constituintes básicos e como eles interagem entre si são alguns dos pontos de partida. Rosenfeld acredita na popularização da ciência porque enxerga uma sede desse tipo de conhecimento, ao mesmo tempo em que há uma desconfiança em relação à ciência. ;Existe um sentimento de que a ciência é ruim, a tecnologia é ruim. As pessoas têm medo de coisas científicas, é incrível isso;, repara o físico. ;É importante as pessoas terem uma atitude crítica, não acreditarem em tudo que veem na internet. A popularização tenta mostrar que ciência não é um bicho de sete cabelas.;</p><p class="texto"> </p><p class="texto">Confira entrevista completa com Rogério Rosenfeld:</p><p class="texto"> </p><strong>A física influencia a filosofia? Como?</strong><br />Sim. Pelas ideias que a física acaba descobrindo. Por exemplo, a Teoria da Relatividade, é uma coisa que influenciou muito os filósofos. Claro que eles falavam de um jeito que não é o que a gente pensa de relatividade, é uma coisa um pouco diferente. Até ficou banalizado, ;tudo é relativo;. Mas influenciou, certo? Outra coisa que influenciou é a física quântica. A física quântica não é determinista, é probabilística. Então o indeterminismo que é consequência da física quântica, eu acho, afeta pensamentos filosóficos. Outra coisa que apareceu na física é o conceito de caos e isso também deve ter afetado alguma coisa entre os filósofos. <br /><br /><strong><br />Filosofia e física podem se confundir em algum momento?</strong><br />Acho que sim. Na última palestra falei bastante sobre saber. A gente quer saber as coisas. Um filósofo é aquele que senta e fica pensando e pensando. O físico senta e pensa também, mas ele checa as ideias dele através de experimentos. Se não houver experimentos para checar a teoria, eu diria que é filosofia. Mas não sei distinguir muito o que é filosofia. A física nasceu da filosofia. Sou doutor em filosofia: PhD é Philosophy Doctor. A física era filosofia natural. O livro de Newton se chamava Princípios matemáticos da filosofia natural. A física nasceu da filosofia, de alguma maneira.<br /><br /><strong>Essas coisas se separaram, em algum momento, dentro da academia?</strong><br />Quem tem que falar mais sobre isso é o filósofo. Acho que houve uma sim uma separação. A linguagem da física é a matemática e a linguagem da filosofia não é a matemática. As linguagens são diferentes. A física tem que ser necessariamente uma ciência exata, a gente quer descrever a natureza. A gente não consegue descrever a natureza apenas com palavras. A gente quer fazer previsões, quer ter uma teoria que faça previsões. Como vou calcular uma órbita usando apenas palavras? É difícil. Não posso. Se bem que Newton usava mais geometria do que cálculo. Os filósofos usavam muita geometria, por causa de Platão. Eu não posso dizer que houve uma separação muito grande porque a geometria é matemática. Mas talvez tenha havido uma separação.<br /><br /><strong>Qual a importância de se popularizar o conhecimento da física e da física quântica principalmente?</strong><br />Acho super importante popularizar a ciência. Ponto. Porque o que senti, inclusive a primeira palestra, é que existe um sentimento de que a ciência é ruim, de que a tecnologia é ruim. as pessoas têm medo de coisas cient;ficas, é incrível isso. Então acho que faz parte da alfabetização científcia da população. É importante as pessoas terem uma atitude crítica, não acreditarem em tudo que veem na internet, e a popularização da ciência vai nessa direção de tentar mostrar que ciência não é um bicho de sete cabelas. E que é importante. Quando você fala ao telefone, é ciência. Minha voz são ondas sonoras transformadas em impulsos elétricos transmitidos em fios que chegam ao seu telefone e você me escuta. Tudo é ciência.<br /><br /><strong>E tem espaço pra isso hoje no Brasil?</strong><br />Sempre tem espaço. As pessoas têm curiosidade. Aqui no instituto a gente tem uma série uma vez por mês chamada Física ao entardecer, coisa de divulgação mesmo, para leigos. Sempre vêm umas 50, 100 pessoas. Esse diálogo entre arte e ciência é popularização. Você faz uma palestra do Marcelo Gleiser, lota auditório. Todo mundo quer saber de física quântica, de buracos negros, de origem do universo. Existe uma curiosidade natural. A gente tem que matar a sede das pessoas.<br /><br /><strong>Quais seriam as cinco descobertas recentes mais importantes da física?</strong><br />Para mim, uma das descobertas mais fundamentais e que veio como uma surpresa total, em 1998, foi a constatação de que o universo não só está em expansão, porque isso a gente já sabia desde 1929-30, mas que essa expansão é acelerada e aumenta com o tempo. Isso é uma surpresa, pegou todo mundo meio desprevinido e deu prêmio Nobel em 2011. Com isso tudo nasceu o campo da famosa energia escura, que é o responsável por modelos da expansão acelerada do universo. A descoberta do Bóson de Higgs foi super importante, mas ao contrário da expansão acelerada, era uma coisa já super esperada, então foi uma confirmação de modelos de física. Foi importante, mas não é algo que ninguém esperava. Agora a gente está esperando pela matéria escura. E tem várias evidências astronômicas da existência dela. Isso é muito importante. A gente está buscando matéria escura no laboratório, mas até agora não sabemos o que é matéria escura. A gente sabe que existe, mas não sabe o que é. Eu espero que haja grandes descobertas no futuro próximo.<br /><br /><strong>O que essas descobertas trazem de impacto para nossas vidas?</strong><br />São descobertas de física básica, mas não tem uma consequência imediata na vida das pessoas. Não tem aplicação tecnológica. A descoberta em si não tem aplicação tecnológica. Mas tem outras coisas que chamamos de spin off. São decorrências das pesquisas, mas que não têm nada a ver com a ciência em si e sim com o desenvolvimento de pessoal humano para trabalhar com essas experiências. Uma coisa importante é que as respostas às perguntas fundamentais dependem da tecnologia disponível, então, para chegar nessas respostas foi desenvolvida um monte de tecnologia e essa tecnologia sim tem impacto na sociedade. O protocolo www foi desenvolvido no laboratório de físicas de partículas, no Cern. Não tem nada a ver com a experiência feita lá, mas era o instrumento necessário para a comunicação. Tem umas coisas que não dá para qualificar. A descoberta do Bóson de Higgs não tem nenhum efeito para a sociedade, mas o número de gênios que você formou, as tecnologias desenvolvidas para chegar nisso, isso sim pode ter efeitos importantes. Agora,, é um conhecimento básico. A gente está explorando o universos, fazendo perguntas e obtendo respostas em relação às coisas mais básicas do universo. Acho isso importante.<br /><br /><br /><strong>Você acredita que o futuro da humanidade possa estar fora da Terra, como defendem alguns físicos?</strong><br />Eventualmente, tudo acaba. O sol vai acabar. O sol está consumindo energia e vai chegar uma hora que ele vai acabar. Mas antes de acabar, vai engolir a Terra porque vai se transformar num gigante vermelho, tem toda uma evolução das estrelas. Tudo acaba. Então essa história de perpetuar a raça humana, nem sei se isso é importante ou não. Você vê, a vida na Terra apareceu há alguns bilhões de anos. Antes disso, o universo era totalmente diferente. A gente tem uma mania de ser muito antropocêntirco. Nos achamos o máximo e queremos perpetuar nossa civilização. Eu não me preocupo muito com isso, para falar a verdade. Acho que a minha vida vai acabar muito antes disso. Talvez a humanidade aprenda a preservar as coisas. E está aprendendo. Acho que houve uma evolução muito grande da década de 1950 para agora. Não se falava muito em proteção ambiental na década de 1950, agora já se fala. Acho que as coisas estão evoluindo, os países estão começando a assinar tratados para a evolução de carbono, as pessoas estão ficando mais atentas. Não sou super pessimista não.. <br /><br />A matéria completa está disponível <a href="http://impresso.correioweb.com.br/app/noticia/cadernos/cidades/2015/10/04/interna_cidades,184393/historias-de-quem-precisa.shtml">aqui</a>, para assinantes. 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