Kleber Cavalcante Gomes nasceu em 1975. Passou a maior parte da infância como tantas outras crianças, no Grajaú, um dos distritos mais populosos da Zona Sul de São Paulo. Andava pela comunidade com liberdade e simplicidade, trajando bermuda e chinelo de dedo nos pés. Passava as tardes de domingo torcendo pelo Corinthians, o time do coração. Mas algo o destacava dos demais. Certamente, por influência da mãe, Dona Vilani, Kleber vislumbrava que a comunidade em que vivia, marcada pela violência, haveria de ser melhor no futuro. Queria, por força do destino, torná-la mais justa, como fazia a matriarca, uma empregada doméstica que lia intelectuais entre um expediente e o outro. Juntos, Kleber ; hoje conhecido nacionalmente como Criolo ; e Dona Vilani cresceram. Ela se tornou uma educadora pós-graduada em língua, literatura e semiótica. Ele, um dos cantores mais relevantes da moderna música brasileira. O sucesso do garoto de origem humilde do Grajaú aconteceu em 2011, com o lançamento do segundo disco, Nó na orelha. Embora cantasse os famosos versos que lamentavam a falta de amor na cinzenta São Paulo, Criolo teve no afeto materno o exemplo e a força motriz necessários para quebrar estereótipos. Inclusive os do hip-hop. Hoje, as músicas de discurso afiado transitam com elegância entre o estilo que o consagrou e o samba, MPB, soul e ritmos latinos. Característica evidenciada em Convoque seu buda, disco lançado no ano passado e que trouxe o rapper a Brasília na sexta-feira, quando apresentou a turnê do novo trabalho pela primeira vez na festa Art Flow. Apenas alguns dias após completar 40 anos, ele conversou com o Correio e demonstrou que mantém os dois pés fincados no chão, eliminando qualquer distância entre Criolo e Kleber Cavalcante Gomes.
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