Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Documentário brasiliense levanta a questão da força do cabelo crespo

Das raízes às pontas discute a aceitação estética como forma de combate ao preconceito racial. O curta-metragem busca financiamento para ser lançado em novembro


A resistência da sociedade à aceitação do cabelo crespo foi o grande motivo para que a roteirista Débora Morais e as diretoras Flora Egécia e Bianca Novais se unissem para criar o documentário Das raízes às pontas. O curta-metragem retrata a vida de Luíza, uma jovem de 12 anos que tem orgulho de seus cachos crespos, e também apresenta entrevistas de convidados de diferentes perfis e faixas etárias ; como Ellen Oléria, Sheron Menezes e Muhammad Bazila ;, que relatam suas vivências e seu posicionamento positivos quanto ao cabelo.

;Débora é professora da rede pública do DF e, a partir do convívio com os alunos, sugeriu pautar a questão da construção da identidade, passando pela infância e com ênfase no cabelo crespo. Flora é mulher e negra e viu no filme uma oportunidade de dar voz a um movimento crescente de afirmação e resgate da cultura afro-brasileira. Na equipe do filme, encontramos um desejo em comum de mudar a perspectiva social negativa em relação ao cabelo crespo;, explica a diretora de arte Bianca Novais.


Com concepção e produção do Estúdio Cajuína e Leni Audiovisual, empresas sediadas em Brasília, o trio reuniu essa ideia e criou o documentário Das raízes às pontas com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC). A expectativa é de que o curta seja lançado em novembro. No entanto, para finalizar o projeto e garantir a distribuição, é necessário mais dinheiro. Por isso, o filme está com uma campanha de financiamento coletivo no site Catarse.

Empoderamento

O maior intuito do documentário é abordar positivamente a estética natural do cabelo crespo, sua construção como fortaleza para superar a violência e o racismo cotidiano, e uma forma de empoderamento social e político. ;A sensação de pertencimento é motivadora e, no nosso entendimento, é que quando esse sentimento atravessa gerações a história muda. Além da questão estética, os cabelos estão associados à afirmação social e à conexão com as nossas origens para resgatar heranças africanas, como as tradições griôs, no ato de trançar o cabelo;, comenta Flora Egécia.

Como ajudar?
O financiamento coletivo vai até 18 de setembro. O intuito é reunir R$ 15.970, que serão divididos entre montagem, colorização, motion design, trilha sonora, legendagem, elaboração e coordenação do projeto no Catarse, envio de recompensas e percentual do Catarse. O site é www.catarse.me/das-raizes-as-pontas.

Quatro perguntas // Débora Morais, Flora Egécia e Bianca Novais

Qual é a importância de discutir a construção da identidade afrobrasileira em um filme?

O racismo ainda é um fenômeno é muito presente em nossa e em qualquer outra sociedade. As práticas racistas são latentes na cultura, na política, na educação, no dia a dia. Compreender o que significa ser e tornar-se negro nos dias atuais é ter ferramentas para mudar essa estrutura social que inferioriza e determina lugares de pouco prestígio para este grupo étnico-racial. É construir uma fortaleza para superar a violência cotidiana e estimular o encontro com a cultura afro-brasileira. A importância está em dar suporte para o debate e dar voz àqueles que têm uma história para contar, dessa forma todos os desdobramentos serão positivos.

Qual é a importância do cabelo e a questão estética na construção da identidade e da resistência política?
Existem diversas formas de militância. O enfrentamento pode estar sim numa demonstração de autoestima, quando a mulher ou o homem decide qual lugar quer ocupar na sociedade. Ninguém quer o lugar do ;feio;, do ;inferior;, do ;subalterno;. Com a aceitação do cabelo vem essa mudança de postura diante do que é posto como padrão, e, principalmente, o despertar para a construção de uma nova história. O caminho para a igualdade está em compreender como a desigualdade se estabelece. Não dá para pensar em resistência política sem que o sujeito se reconheça como pertencente e se agrupe com seus pares.

Quem são os entrevistados do projeto? E como foi o processo de seleção?
Foram convidados a emprestar suas histórias, por meio de entrevistas, mulheres e homens com diferentes perfis e faixas etárias. Escolhemos perfis que proporcionassem ao público uma compreenssão mais ampla do tema por meio dos diversos processos e vivências relatados. Apesar de conhecermos pessoas que se enquadram na maioria destes perfis, optamos por convidar para o documentário personagens que não fizessem parte dos nossos círculos sociais pois estávamos dispostos a conhecer histórias e opiniões que não necessariamente fossem condizentes com as nossas. Os entrevistados foram Luiza Batista, Ildete Batista, Antônio Carlos Andrade de Souza, Maria de Lourdes Teodoro, Sheron Menezes, Ellen Ole%u0301ria, Fabíola da Costa, Melina Marques, Muhammad Bazila, Gabriel Sampaio, Gisele Argolo e Ana Andrade. São pessoas que por meio de sua postura transformam o ambiente a sua volta, que falam e posicionam-se com o seu cabelo.

A produção do documentário é brasiliense?
Sim. O documentário é produzido e realizado pelo Estúdio Cajuína e Leni Audiovisual, ambas empresas sediadas em Brasília. Assim como nossos principais apoiadores na etapa de produção, a Ozi e a Tauá Produções Culturais, que participam da construção cultural do DF há muitos anos.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.