;Há algo nesta profissão que é incompatível com a verdadeira maturidade;, afirmou o cineasta François Truffaut à época da promoção de Um só pecado (1964). A esta altura, aos 32 anos, Truffaut estava em plena forma artística, tendo dirigido outros oito filmes, entre longas e curtas-metragens. A afirmação do francês nada tem a ver, no entanto, com falsa modéstia, mas reflete o entusiasmo puro com que encarava o cinema, que lhe serviu de abrigo durante a infância tumultuada. Esse período da vida, inclusive, foi um tema constante na obra de Truffaut, de maneira direta em filmes como Os incompreendidos (1959) e O garoto selvagem (1970) ou indireta, no eternamente imaturo Antoine Doinel ; seu alter-ego, interpretado por Jean-Pierre Léaud em cinco filmes.
Órfão de pai e rejeitado pela mãe, Truffaut fez do cinema sua casa, onde se sentia à vontade para expor seus fantasmas e exercer suas paixões. Não por acaso sua filmografia brilha com tons intensamente pessoais. Alguns de seus filmes podem ser revisitados nas caixas A arte de François Truffaut ; que reúne três títulos, entre eles, A noite americana, sua declaração de amor ao cinema ; e Nouvelle Vague, que traz o longa Um só pecado (1964), além de filmes de diretores como Alain Resnais e Jacques Demy, ambas lançadas pela Versátil.
O Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo propõe um contato ainda mais aprofundado com as múltiplas facetas do diretor, roteirista, ator e crítico na exposição Truffaut: um cineasta apaixonado, inaugurada este mês. A mostra, que fica em cartaz até 18 de outubro, reúne mais de 600 itens, entre desenhos, fotos, objetos pessoais, livros, revistas e roteiros com anotações, doados pela família do artista à Cinemateca Francesa, que concebeu a exposição, sob a curadoria de Serge Toubiana.
O cinema resgatou Truffaut da delinquência na figura de André Bazin, teórico e crítico francês que lhe deu a oportunidade de escrever nos Cahiers du cinema, nos anos 1950. Na companhia de outros célebres colaboradores da revista, como Jean-Luc Godard, Claude Chabrol e Jacques Rivette, Truffaut fundou a Nouvelle Vague, que trouxe a modernidade ao cinema francês por meio de câmeras ágeis, que capturavam com leveza e sinceridade a vida nas rua de Paris. O autobiográfico Os incompreendidos inaugura o movimento e também a parceria com o ator Jean-Pierre Léaud. A devoção à imagem cinematográfica é o que une cineastas tão díspares em abordagem como Truffaut e Godard.
[VIDEO1]
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui