Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Usha Velasco fala ao Correio sobre o lado bucólico de Brasília

Artista de 47 também conversou sobre os projetos que pretende concluir até o fim do ano




Brasília tem um lado bucólico que a artista Usha Velasco nunca se cansa de procurar. É a cidade dos bosques, dos banquinhos, da paz de vilarejo do interior que ela busca em boa parte de suas fotos. Aos 47 anos, depois de morar em ;quase todo o Plano Piloto;, Usha decidiu voltar para o mato. Em uma chácara no Lago Oeste, ela está construindo a segunda casa de sua vida e, sobretudo, mantendo viva a conexão com a natureza, que adora desde menina. É lá que toca os quatro projetos programados para serem concluídos até o fim do ano: um livro sobre o programa de bibliotecas da Gasol, outro sobre os 25 anos do coletivo Ladrões de Alma, do qual sempre participou; um mapeamento de como o Entorno vê Brasília idealizado pela filha antropóloga; e um livro sobre seu trabalho com sucata. Nesta entrevista, Usha fala sobre Brasília, fotografia, comunicação e natureza do Cerrado.

Você fotografa muito Brasília, mas prefere morar no campo. Como é sua relação com o campo?
Morei em tudo quanto é quadra do Plano. Houve uma época da minha vida que eu tinha mais endereços que anos de idade. Mas fui criada na roça, me sinto muito confortável, tem uma coisa de lembrar a infância. Tem silêncio, sossego. E, aqui, no Lago Oeste, é muito roça, todo mundo se conhece, o pessoal se ajuda. É muito mais humano. Não que eu ache que Brasília seja fria e as pessoas sejam mais distantes, não acho isso não, nunca achei. Mas aqui é mais humano, tem coisa de cidade pequena.

O que é o Plano Piloto para você hoje?

Muita gente que vem de fora tem queixas, mais do que quem foi criado aqui. Quem foi criado aqui se sente mais confortável e eu fui criada aqui, desde os 5 anos. Quando mudei para Brasília, era uma cidade pequena, o Plano Piloto era uma coisinha, a gente brincava na rua. Era 1971 e eu morava na 305 Sul. A gente descia para brincar depois da aula e voltava à noite para tomar banho e jantar, não dizia onde estava. E ninguém se preocupava com isso. Quando me era adolescente, andava por aí à noite sozinha, mas minhas filhas eu não deixava fazerem isso. A cidade ficou muito grande, muito populosa, violenta. Mas esta coisa de afastar as pessoas, eu não sinto. Fui criada solta na cidade e, quando era adolescente, a gente andava em bandos e não senti falta nenhuma de convívio. E tinha a coisa de usar o espaço da cidade, a gente vivia nos gramados, subia em árvore. E as pessoas estão fazendo isso muito mais hoje.

E hoje tem um retorno a isso?
Sim, as pessoas estão voltando a ocupar a cidade, esta coisa de ter festa em passagem subterrânea, por exemplo. Acho que está acontecendo porque as pessoas precisam viver a cidade. Ninguém aguenta sair de casa para o trabalho e depois para o shopping. Ninguém quer viver encaixotado. E a cidade é linda, o Plano Piloto é um bosque, e tem a beira do Lago, que foi descoberta de uns 10 anos pra cá. As pessoas precisam, elas sentem falta.

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