Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

História do brasileiro Gazelle de Paulo se torna documentário premiado

O filme 'Gazelle: The love issue', de Cesar Terranova, foi exibido no Festival Gay do Rio de Janeiro e agora segue para Madri e Inglaterra


O brasileiro Gazelle Paulo se mudou do Piauí para Nova York por conta de um grande amor, mas o que manteve fora do Brasil foi, principalmente, o grande número de oportunidades que ele encontrou lá fora. O comissário de bordo começou a fazer parte da cena underground nova-iorquina sob o título de seu alter ego, Gazelle.

[SAIBAMAIS]Mas foi a criação da revista Gazelland, uma publicação em homenagem a documentação de artistas, fotógrafos, performers e designers do segmento gay e transexual da vida noturna de NY, além de Londres e São Paulo, que o projetou mundialmente. ;Uma noite, em 2004, eu estava trabalhando na porta do antigo Clube Crobar, em NY, em uma festa de ;montação; pesada que se chamava Disgraceland. Deixei um fotógrafo entrar para dar uma olhada e um performer posou na frente dele. No entanto, ele disse que estava a procura de músculos e, não drag queens. Então eu mesmo resolvi tirar fotos da ;montação; (caracterização de uma drag) diária e postá-las;, revela. O projeto começou primeiro na internet e, depois, ganhou uma versão impressa.

São histórias como essa de Gazelle Paulo que inspiraram o diretor novato Cesar Terranova a criar o documentário Gazelle: The love issue (Gazelle: O problema do amor, em tradução livre), que foi exibido neste mês no Rio Festival Gay, no Rio de Janeiro.

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O longa-metragem, lançado no ano passado, já ganhou quatro prêmios e 12 nomeações, participando de importantes festivais de cinema em locais como EUA, México, Canadá, Holanda, França, Espanha e Inglaterra. Após a exibição no Brasil, o filme segue para o Madrid International Film Festival, na Espanha, e para o Manchester Film Festival, na Inglaterra.

Quatro perguntas // Gazelle Paulo

Como surgiu a ideia de transformar sua vida em um documentário?
A ideia partiu do Cesar Terranova, o diretor do filme. Na verdade, a minha vida por mais que aparente ser tão complicada e rápida na tela, para mim, é uma rotina muito normal. Eu mesmo nunca poderia fazer um documentário sobre a minha vida, soaria meio pretencioso. Sua ideia inicial era apenas um filme de 10 minutos, um projeto para a New York Film Academy Documentary school, porém o projeto cresceu e aqui estamos quase cinco anos depois.

O filme garantiu algumas premiações pelo mundo. O que isso significa para você?
Significa que o tempo que Cesar Terranova passou me seguindo pelo mundo nao foi em vão. Esse foi o meu maior receio, que ele nao perdesse o seu tempo. Eu já era Gazelle antes do filme e sempre continuarei sendo. Mas esse é o primeiro filme dele, entao sua visão foi um risco. Essas premiações e nomeações dão uma validade ao seu trabalho dinâmico, já que, primeiramente, sua generosidade trouxe um grande valor ao meu personagem Gazelle.


O documentário retrata a sua vida e sua luta contra a Aids. O que você queria que fosse mostrado no filme?
Quando eu me comprometi a fazer o longa, a intenção maior foi a de mostrar uma história crua que pudesse ser inspiradora para outras pessoas. Sim, eu posso ir para o Paris por uma tarde para apenas cortar o cabelo, mas também tem o lado real de alguém que é portador do HIV, que eu considero "apenas" umas das muitas definicções do Paulo Gazelle. Desistir de quê? A vida é muito curta, e a meu ver nós mesmos somos responsáveis por nossa felicidade.

O documentário roda o mundo em momento muito importante para a cultura LGBT, com a decisão dos EUA de aprovar o casamento gay. Você acha que o filme pode ajudar a diminuir o preconceito?
Um filme apenas não muda ou diminue o preconceito das pessoas. Amor ou ódio são ensinados em casa. Mas gostaria que, de uma forma individual, o filme pudesse abrir os olhos aos gays que se sentem, talvez, diminuidos, pois tudo na vida pode ser possível. Ninguém, incluindo família, tem o poder fazer você se sentir inferior devido a sua orientação sexual ou seja lá o que for que você curte. Não é da conta de ninguém o que você faz entre quatro paredes, além do mais, sexo não define pessoas como um todo. Usar táticas de terror para influenciar ensinamentos de amor vindo de um certo Deus, para mim, é a coisa mais pré-histórica que existe. A decisão dos EUA é importante por que iguala todo mundo perante as leis da sociedade, é sinal dos tempos, é progresso, é transformação... Quem não gosta, deveria voltar a morar nas cavernas.

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