Julio César é uma peça de transição de Shakespeare. Otto Maria Carpeaux observa como nela se esvanece o espírito renascentista, preparando o clima para o teatro noturno do autor. O texto é incoerente, se decompõe em partes quase independentes, de forma que a tragédia do ditador assassinado é substituída pela do republicano desiludido (e vencido). Cássio e Casca preparam o caminho para o discurso de Marco Antônio, após o assassinato de César, e a culpa de Brutus ocupa todo o final.
Mankiewicz já havia recebido quatro Oscars - dois como melhor diretor e dois como roteirista pelos filmes Quem É o Infiel? e A Malvada. Sua fama, como a do irmão Herman, que escreveu Cidadão Kane, era de intelectual. Com um elenco de astros e estrelas da Metro, compôs o elenco de sua adaptação da peça de Shakespeare. Hollywood on Avon. A tragédia passa pela palavra, a mise-en-sc;ne constrói-se no dinamismo dos diálogos. Para evitar que virasse um grande espetáculo, Mankiewicz filmou em preto e branco.
Dez anos mais tarde, ele voltou a Julio César como espetáculo, em Cleópatra. Manteve os diálogos shakespearianos, mas eliminou o discurso de Marco Antônio. Quando Richard Burton começa a falar, após a morte de César, a câmera se afasta e o ruído da multidão abafa suas palavras. O efeito é nítido. Ele não será um sucessor à altura de César, e essa é sua tragédia (e a de Cleópatra).
Mais 50 anos e os irmãos Taviani utilizaram a encenação de Julio Cesar numa prisão como forma de refletir sobre a Itália contemporânea em César Deve Morrer. Onde acaba a política, o assassinato de César, e começa o crime. Julio César viveu mais duas vezes nas telas, em adaptações da peça com Charlton Heston. A segunda, de Stuart Burge, de 1970, seria mais interessante se não fosse a robótica atuação de Jason Robards como Brutus. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.