Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Após dois anos, pessoas próximas a Jorge Ferreira comentam sua ausência

Ao Correio, herdeiros e parceiros comentam as marcas deixadas pelo empresário, poeta e agitador cultural

Pouco antes de morrer, em 2 de julho de 2013, aos 54 anos, Jorge Ferreira negociava com um sheik árabe a construção de uma série de empreendimentos hoteleiros em Brasília. O empresário, poeta, professor, sindicalista e agitador cultural não falava inglês, mas se garantia no bom mineirês ; e, sobretudo, no carisma. Sem trocar uma palavra, quase fechou um importante acordo comercial com o milionário. Faleceu antes de assinar os papéis, em decorrência de problemas cardíacos. O investidor árabe deixou o país. Desistiu de Brasília, cidade que, para ele, era representada pela figura cativante de Jorge Ferreira.

Passados dois anos da perda precoce de um dos personagens mais importantes da noite brasiliense, a capital celebra a vida de Jorge. O luto e a tristeza não são termos compatíveis com o mineiro que deixou Cruzília, no sul do estado, e partiu para Brasília em 1985. A figura mítica que fazia amizades como ninguém nunca foi de se lamentar. Relações amistosas iam do garçom ao presidente da República. Do mendigo, a quem gentilmente cedia uma marmita a Luiz Inácio Lula da Silva.

A habilidade em negociar e em estreitar laços foi uma faceta que Jorge não aprendeu na faculdade de ciências sociais na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Ligar pessoas e unir ;Coreia do Norte a Coreia do Sul; foi herança da cultura de boteco. Quem garante são os atuais responsáveis pelo legado de Jorge, Leonardo Ferreira, Mauro Calichman e Lucas Ferreira. À frente de mais de 10 bares e restaurantes, o trio batalha para manter nas casas o mesmo ambiente amistoso que imperava quando o empresário esteve presente.

;Meu pai sempre fazia uma comparação do bar com a própria casa. Acreditava que os dois tinham que ter um clima parecido. Numa época, estava lendo um livro sobre a não existência de Deus. Um amigo virou e falou: você sabe como é: política, futebol e religião não se discute. Ele bateu o copo na mesa e disse que nas casas dele, se discutia de tudo;, relembra Leonardo Ferreira.

Depoimentos

;Conheci o Jorge na época do Feitiço. Mas a primeira logomarca que fiz para ele foi do Bar Brasília. Ele criou o melhor bar na esquina de uma cidade sem esquinas. Era dessas pessoas muito especiais que a gente encontra poucas pelo mundo. É uma maldade ter morrido tão cedo, era uma das melhores pessoas que conheci na minha vida. Eu amava o Jorge.;
Ziraldo
, escritor e ilustrador

;Desde que me entendo por gente vou ao Feitiço Mineiro. Vi vários shows maravilhosos lá. Meu pai era figura tão frequente que já conhecia o Jorge pessoalmente. Pessoas como ele deveriam ganhar uma estátua em Brasília. Ele fez muito pela cidade. O Feitiço Mineiro é um lugar com bons shows há muito tempo.;
Pedro Martins, músico


;Conheci o Jorgão em 1999, na época, eu tinha uns 29 anos. Com o passar dos anos, ficamos cada vez mais amigos. Ele foi um cara que sempre pensou em fazer algo legal para a cidade, em tirar as coisas do comum. Tudo começava ali no Feitiço Mineiro. Foi uma batalha dele a vida toda. O Jorge sempre foi muito ligado à música e investia nela, dando prejuízo ou lucro. Ele foi se tornando amigo dos músicos. Ele era muito ligado ao integrantes do Clube da Esquina, aos sambistas do Rio de Janeiro, ao Jaguar, ao Ziraldo, ao Lan (cartunista italiano). Se interessava por tudo que era cultura e arte. Acabou fazendo poesia e música. Acho que foi uma perda gigante.;
Gil Guimarães, chef da Pizzaria Baco e do restaurante Parrilla Madrid


A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.