A mistura entre o erudito e o popular sempre foi uma fórmula segura para a pianista Clara Sverner. A mesma medida de Chopin e Chiquinha Gonzaga é capaz de criar um equilíbrio mágico que atrai dos ouvidos menos treinados aos mais experientes. A combinação vem da experiência, a mesma que a musicista tenta passar aos alunos para os quais ministra master-classes como a de ontem, realizada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), e para o público. No recital de hoje, o quarto do projeto Piano para todos, Clara mostra como colocar Chiquinha Gonzaga ao lado de Mozart pode ser extremamente prazeroso.
Clara sempre foi uma entusiasta da música brasileira. Uma das pianistas que mais gravou discos no Brasil ; são 28 no total ;, ela percebeu, em 1971, que a música brasileira merecia uma atenção especial e passou boa parte das décadas seguintes dedicadas a registrar a produção nacional. Além de Chiquinha Gonzaga, Clara gravou Pixinguinha, Tom Jobim, Eduardo Souto, fez duetos com Paulo Moura e dedicou três discos a Clauco Velasquez na tentativa de trazer de volta à cena aquele que chama de mais ;moderno; dos compositores brasileiros. ;Não entendi como ele tinha sumido da memória de tal maneira que eu nem sabia quem era. É uma história espantosa, merecia uma minissérie que nem Chiquinha. Ele morreu aos 30 anos. Ia mudar o cenário da música brasileira.;
Velasquez sempre integra o repertório da artista e estará no recital de hoje com Devaneio sobre as ondas/Brutto sogno (pesadelo). Clara também toca Impressões seresteiras, de Heitor Villa-Lobos, e Bionne, de Chiquinha Gonzaga. De Mozart, ela faz a Sonata K.V.331, a da famosa Marcha turca, e de Maurice Ravel, a Sonatine. De Chopin, que fez Clara ser indicada pela segunda vez ao Grammy Latino em 2010 por um disco com os prelúdios e um noturno, ela faz a popular Ballade n; 1, a mesma que encantou uma menina de 14 anos durante um recital no Clube do Choro. ;Ela veio com lágrimas nos olhos;, lembra. Clara acredita que para gostar, basta ouvir. A crise das gravadoras tem um lado bom, o de facilitar o acesso.
O mundo digital permite colocar online gravações esgotadas e disponibiliza vídeos de gravações do início do século, o que é precioso para estudantes de música. No entanto, ainda há um abismo entre a música erudita e o público jovem. ;O público está escasseando;, constata a pianista, que tocou na Virada paulista na semana passada em uma praça às 4h da manhã de um domingo. ;Não acho que o jovem não gosta de música clássica, ele não tem é acesso. E fica achando que é uma coisa inacessível. Essa palavra erudita`; já não é muito boa. Esse meu projeto, a ideia é levar o piano para todos.;
A discografia de Clara também reúne um lote importante de clássicos. Entre os anos 1990 e 2000, ela decidiu voltar às origens e gravou a integral das sonatas para piano de Mozart, dois discos de Chopin e um com Ravel e Debussy. Com o disco de Chopin de 2010, ela ganhou o prêmio TIM. O dueto com Paulo Moura rendeu um Prêmio Villa-Lobos. Agora, Clara se concentra num novo universo. Ao lado do filho Muti Randoplh, designer especializado em programação gráfica, ela experimenta a sinestesia. Muti projeta no computador a música feita pela mãe. ;É incrível o que temos feito;, avisa.
Piano para todos
Com Clara Sverner. Hoje, às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB ; Setor de Clubes Sul, Trecho 2). Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia). Funcionários dos Correios têm desconto de 50%