Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Bailarino brasileiro é selecionado para integrar Escola Bolshoi de Moscou

O fluminense David Motta está entre os sete selecionados para integrar uma das maiores companhias de dança do mundo. Agora, ele faz parte do corpo de baile da instituição

Foram a leveza e o sentimento contidos nos passos do balé clássico que encantaram o fluminense David Motta. Primeiro brasileiro a se formar na escola do Teatro Bolshoi, em Moscou, o bailarino de 18 anos percorreu um caminho improvável e cheio de obstáculos, mas pontuado por êxitos que o alçaram a uma das mais renomadas companhias de dança do mundo. Este ano, após terminar a formação na escola, David foi um dos sete selecionados em um concurso para integrar o corpo de baile do Teatro Bolshoi. Agora, com contrato de trabalho e como bailarino profissional, ele vai subir ao palco do velho teatro russo para dançar os balés mais importantes do repertório. Sob a direção de Serguei Fillin, diretor do Bolshoi, o brasileiro sobe ao palco a partir de setembro para dançar a próxima temporada do balé. A partir da semana que vem, ele dá início ao estágio preparatório da companhia.



O encanto de David pelo balé começa em Cabo Frio, há 9 anos, quando foi acompanhar uma prima em uma aula de balé em um projeto social idealizado por Ophélia Corvello. ;Eu me apaixonei pela dança;, lembra. Na época com 9 anos, ele começou a fazer aulas, mas precisou enfrentar o pai, que não enxergava na dança nem uma profissão, nem uma atividade para meninos. Sem recursos, a família não tinha condições de bancar o sonho de David. Foi graças a Regina Corvello, filha de Ophélia, que ele pôde continuar a dançar. Bailarina e professora, Regina trouxe David para Brasília. Em menos de seis meses, o rapaz, na época com 12 anos, ganhou o Youth American Grand Prix Brasil, uma competição que reune jovens bailarinos de todo o país. David deveria viajar a Nova York para a final do concurso, mas não conseguiu o visto para os Estados Unidos.

No entanto, olheiros do Bolshoi viram o vídeo do rapaz e o convidaram para um curso de verão em Nova York. Daí em diante, o mergulho no mundo do balé foi automático. Em meados de 2010, aos 13 anos, sozinho e sem saber uma palavra de russo, estava instalado em Moscou, matriculado na escola do Bolshoi e numa escola primária. ;Hoje, eu nem acredito;, diz. O curso na Rússia não oferecia bolsa e a anuidade da escola custava 18 mil euros. Graças a duas matérias publicadas no Correio entre 2008 e 2010 e ao apoio financeiro e psicológico de Regina, Daviddd conseguiu doações para viajar e estudar durante o primeiro ano. Os três anos seguintes contaram com o apoio do Ministério das Relações Exteriores.

Para sobreviver, foco na dança

Disciplina e resistência são ingredientes básicos do balé. A competição, um de seus temperos que, em excesso, pode fazer a mistura desandar. David diz que teve sorte até agora. Nem o fato de ser estrangeiro acirrou as disputas em sua turma, mas ele sabe que, no mundo profissional, a competitividade pode ser cruel. ;Na minha turma, somos todos bem unidos, mas a gente percebe isso em outras turmas, essa coisa da inveja. Para sobreviver, o negócio é focar na dança, porque é no palco que mostramos quem realmente somos;, conta o rapaz, escolhido solista das apresentações anuais da escola nos dois últimos anos. ;Ele tem um talento nato e muita disciplina;, conta Regina, orgulhosa de saber que David tem sido reconhecido na rua por conta de suas apresentações. ;Bailarino, na Rússia, é elite. Não é que nem aqui;, diz.

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