Diversão e Arte

Afonso Brazza, morto em 2003, tem obra resgatada pelo amigo Pedro Lacerda

A luta de Lacerda é para preservar a memória do diretor

Ricardo Daehn
postado em 01/06/2015 08:03
Pedro Lacerda:
Mitológico em terras brasilienses, com reconhecida produção trash de filmes, o diretor Afonso Brazza, mesmo ao sair de cena, em 2003 (vítima de câncer), legou à cidade mais uma história dramática. Boa parte das memórias e da obra do bombeiro de carreira,por pouco não virou cinzas. Numa chácara, a 15km do Gama, em momento depressivo, a viúva Claudete Joubert queria jogar numa fogueira os antigos pertences do cineasta. "Ela disse que não queria mais saber de filme, não. Corri lá e salvei dois filmes em película dele, o No eixo da morte e o Tortura selvagem ; A grade;, conta o cineasta, amigo de Brazza, Pedro Lacerda.

[SAIBAMAIS]Mesmo salvo de labaredas, o material de Brazza permanece chamuscado: ;O Brasil tem o pecado de não se preocupar com a memória. Sobretudo, no cinema. Em Brasília, por exemplo, não se tem uma cinemateca;, enfatiza Lacerda. Dívidas de obras proteladas e custo de preservação estão entre os obstáculos para reacender a memória do diretor agregador, que, para seguir como cineasta (com mais tempo para si), não quis nem ser promovido no Corpo de Bombeiros. ;Não vou jogar o material dele fora, por aí. Sabe que até pensei em levar para a Cinemateca Brasileira de São Paulo? Mas é chato ter uma história genuína de Brasília mandada para lá. Seria como jogar mais um rosto na multidão;, analisa o diretor, que, a partir da morte do amigo, assumiu a codireção do último filme dele, Fuga sem destino (que terá sessão especial, no Cine Brasília, no 16 próximo, com ingressos vendidos na Kingdom Comics, Conic).

Ao lado do produtor Roger Madruga, Lacerda assegurou a vida do mais recente longa por, ao menos, mais 150 anos, quando depositou negativos, há três semanas, no Centro Técnico Audiovisual (RJ). ;Os laboratórios de cinema fecharam, e eles normalmente direcionavam os negativos de filmes para o Museu da Imagem e do Som e MAM (RJ). O paradeiro das outras fitas do Brazza permanece uma incógnita;, comenta o depositário voluntário do acervo Brazza.

Depoimento


"A academia de cinema achava que ele não merecia nem nota em jornal. E ele ainda veio da Boca do Lixo, um lugar discriminado, mesmo com a popularidade dos filmes produzidos lá", destaca o diretor Pedro Lacerda, ao remexer na memória do amigo Afonso Brazza, o famoso cineasta bombeiro, morto em decorrência de câncer no esôfago, em 2003.

Numa história de lutas, vitórias e perdas, por exemplo, um argentino teria comprado uma cópia dos dois primeiros filmes desaparecido com negativos originais, Brazza teima em se perpetuar, como em projeto em andamento de documentário assinado por Kátia Coelho. "Ele tinha uma visão desenvolvimentista e pretendia montar um coletivo, num sonho comunitário parecido com o da fazenda cinematográfica mantida pelo Mazzaropi", conta Lacerda. Diretor do longa Vidas vazias e as horas mortas (2014), Lacerda deu término à montagem do último filme de Brazza, Fuga sem destino (a ser exibido no Cine Brasília, em 16 de junho, numa sessão especial). "Ele me telefonava todo o dia -- ele era um muito bom pidão", ri Lacerda.

Acatando pedido do marido, nem a atriz, e mulher dele, Claudete Joubert, acompanhou a fase terminal dele."Ele não queria ser visto da maneira que ficou, destruído, muito mais do que debilitado", relembra o amigo. Contemporâneo de Claudete, na Boca do Lixo (SP), Lacerda lembra que Brazza, por lá, era chamado de Brasília. Pela frente da surrada Arri standard de Brazza, passaram personalidades como a deputada Liliane Roriz, Rodolfo (da banda Raimundos), Frank Aguiar e Carlinhos Beauty, entre outras.

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