Quando Leo Bassi fundou a Igreja Patólica, queria falar de religião de uma maneira irônica. Ele imaginou que, se os palhaços tivessem um deus, ele não seria agressivo e malvado e sim totalmente humilde e inofensivo. Criou então sua própria religião, cuja figura mais sagrada é representada por um patinho de borracha amarelo. Irritou muita gente, claro. Afinal, a Igreja Patólica existe fisicamente e fica em um bairro de Madri, onde Bassi mora hoje. Palhaço nascido em amília circense, Bassi é um dos bufões mais provocadores e independentes da Europa. Este mês, ele esteve no Brasil para uma aula no Oi Futura, no Rio de Janeiro. Nascido em Nova York há 63 anos, filho de uma família que vive do circo desde 1840 e bisneto dos primeiros palhaços a serem registrados no cinema pelos irmãos Lumi;re, Bassi é também otimista. Em conversa com o Diversão, ele explica porque mantém a esperança.
É possível fazer todo tipo de humor ou há um limite?
O direito de expressão tem dois lados: o direito de dizer algo e o direito de escutar e rir. Tendo viajado em muitos continentes e encontrado muitas civilizações diferentes, cada uma com sua forma de humor, chego à conclusão de que o humor é sagrado e é preciso respeitá-lo por si mesmo, inclusive se você não gostar. A partir do momento que algo faz alguém rir, isso é mágico, é sagrado. É algo que vai acima do bem e do mal, é algo instintivo, natural, da mesma maneira que o sexo é sagrado e precisa ser respeitado.
Há temas proibidos para você?
Se sei que há pessoas que sofreram, por exemplo, com a morte, não posso fazer piadas sobre a morte. Sei que isso pode ferir quem escuta. Mas não vou limitar meus argumentos para fazer rir. Se faço um espetáculo e ninguém ri, quer dizer que não estou fazendo humor, estou equivocado. Mas se olho para a plateia e ela começar a rir, é outra coisa. Você pode fazer rir seus amigos com humor negro muito duro, mas esse mesmo humor negro não pode ser utilizado na televisão, por exemplo, porque há milhões de pessoas e crianças ouvindo. O problema é que há coisas que você pode fazer para um público que você conhece e controla e há outras coisas que você precisa controlar.
Você costuma dizer que hoje a realidade supera os bufões. Por quê?
Neste momento, há uma desilusão com as instituições, com os políticos, com o poder econômico e bancário, e essa irreverência e provocação dos bufões é percebida pelo povo como uma representante dele. Neste momento, as pessoas estão muito a favor dos bufões, há até palhaços na política, como Pepe Grillo na Itália. Neste momento, na Espanha, há eleições de prefeitos e tenho muitas reuniões eleitorais, muitos partidos pedem minha presença pelo espírito crítico e pela minha capacidade de fazer rir. Na Europa, neste momento, é uma época de ouro para os palhaços.
Quando o chamam para participar de eventos políticos, qual sua posição?
Sou claramente de esquerda, sou humanista, sou da massa e contra a elite, não quero me atrelar aos poderosos e esses são os temas eternos dos bufões. Creio que os bufões sempre representaram a voz popular, da rua, a voz da realidade contra os abusos do poder e pode ser o poder do rei, do imperador, dos partidos corruptos ou religiosos. Não tenho um partido e, nas eleições, tento não me apresentar em apenas um evento, vou a todos os eventos dos partidos que representam o mesmo espírito humanista, contra as privatizações, contra o domínio dos banqueiros. Um fato um pouco triste é que esses partidos não se unem e há facções muito diferentes. Eu não quero entrar na política, não tenho capacidade de organização, eu posso me influenciar por minhas opiniões, mas não busco posição política. A única coisa que quero fazer é dar força e esperança às pessoas normais com a ideia que os valores das pessoas mais simples são mais importantes e não os valores da elite.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.