Depois de receber asilo político, encontra um trabalho de porteiro em um gueto, reduto de imigrantes, de exclusão e de pobreza. Com seus intensos olhos negros, "Dheepan", interpretado por Jesuthasan Antonythasan, tenta construir uma vida familiar com essas duas desconhecidas.
O filme de Audiard tem bastante da própria vida do protagonista, que se envolveu na guerrilha independentista aos 16 anos, aos 19 fugiu para a Tailândia e quatro anos depois, em 1993, chegou à França, que lhe concedeu asilo político. "Me pareço em cerca de 50% a esse personagem", confessou o escritor e ator amador, que apesar dos anos na França continua escrevendo em tâmil, resistindo à língua de Moli;re.
Para o diretor francês o que mais lhe interessava nessa história era a "falsa família" que pouco a pouco vai se transformando em uma família de verdade, à medida que os três personagens aprendem a se conhecer, a se respeitar e a se amar. "Este homem antes lutava por razões políticas. Depois só lutou pelas pessoas que ama", explicou Jacques Audiard.
Audiard, que já foi premiado várias vezes em Cannes - prêmio de melhor roteiro por "Un héros tr;s discret em 1996, Grande Prêmio em 2009 por "Um profeta" - explora em seu sétimo filme um universo cinzento, como fez em "Um profeta". No filme, que perpassa por vários gêneros, o diretor reconhece que não quis fazer falar sobre a guerra nem sobre a integração de imigrantes. "É como se a história de amor derivasse de todos esses gêneros", opinou. O governo do Sri Lanka proclamou a vitória sobre a guerrilha separatista em 18 de maio de 2009, depois que o exército derrotou o último bastião de resistência, após 37 anos de guerra civil e 100.000 mortos.
Outros prêmios
O taiwanês Hou Hsiao-Hsien recebeu o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes pelo filme "The Assassin", sobre uma assassina na China da dinastia Tang. Ambientado no século IX, o filme conta a história de uma criança de 10 anos sequestrada para ser treinada na arte de matar.
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O filme "Chronic" do mexicano Michel Franco, impactante retrato de um enfermeiro que cuida de pacientes em estado terminal interpretado pelo britânico Tim Roth, venceu o prêmio de melhor roteiro do Festival de Cannes. Rodado em inglês, "Chronic" era o único filme da América Latina na mostra oficial este ano em Cannes, onde o cineasta mexicano de 35 anos foi premiado em 2012 na mostra Um Certo Olhar com "Después de Lucía".
Grande Prêmio de Cannes
E o filme "Saul Fia", uma impactante história em um campo de concentração, do jovem cineasta húngaro Laszlo Nemes, foi premiado neste domingo com o Grande Prêmio do Festival de Cannes. "Saul Fia" conta o drama de um prisioneiro em um campo de concentração que acredita descobrir o corpo de seu filho entre uma pilha de mortos na câmara de gás e em meio à barbárie nazista tenta enterrá-lo segundo o ritual judeu.
Agoniante, ritmado visualmente pelos movimentos e os gestos de Saul (Geza R;hrig), o filme transborda ruídos assustadores dos fornos crematórios, barulhos de passos ou mãos que batem nas portas das câmaras de gás, ordens gritadas em alemão e fragmentos de conversas em diferentes línguas. O filme opta por mostrar essa realidade sob o ponto de vista exclusivo do protagonista, para que o espectador se sinta no lugar de um só homem, deixando de lado o campo de visão - ou fora de foco - o horror do extermínio.
No ano passado, as comemorações do 70; aniversário das deportações massivas aos campos de concentração nazistas deram lugar a numerosos debates sobre a cumplicidade húngara no genocídio. "Este continente ainda está habitado pelo tema", disse Nemes ao receber o prêmio
Confira abaixo a lista de ganhadores:
Palma de Ouro: "Dheepan", de Jacques Audiard (França)
Grande Prêmio: "Son of Saul", de Laszlo Nemes (Hungria)
Melhor atriz: compartilhado por Emmanuelle Bercot (França), por "Mon Roi", de Ma;wenn, e Rooney Mara (Estados Unidos), por "Carol", de Todd Haynes
Melhor ator: Vincent Lindon (França), por "La loi du marché", de Stéphane Brizé
Melhor diretor: Hou Hsiao-Hsien (Taiwan), por "The Assassin"
Melhor roteiro: Michel Franco (México), por "Chronic"
Prêmio do Júri: "The Lobster", de Yorgos Lanthimos (Grecia)
Câmara de Ouro: "La Tierra y la sombra", de César Augusto Acevedo (Colômbia)
Palma de Ouro de curta-metragem: "Waves;98", de Ely Dagher (Líbano)