Diversão e Arte

Afrobeat é fonte de inspiração para grupos internacionais e nacionais

Inspirados pela a antropofagia cultural de Chico Science, Brasília também tem seus representantes no gênero

Rebeca Oliveira
postado em 21/05/2015 08:03
Vindos da África do Sul, a banda Kongos orgulha-se de carregar elementos do continente de origem,  que são repaginados numa música com pinceladas de pop, rock e folk
;Modernizar o passado é uma evolução musical;, pregava Chico Science em Monólogo ao pé do ouvido, que compunha o aclamado Da lama aos caos, lançado com a Nação Zumbi, em 1994. O fatídico 2 de fevereiro de 1997 ; quando o Brasil perdeu de modo trágico e precoce o pernambucano ; não determinou o fim da poderosa fusão entre ritmos brasileiros e africanos que ele tanto valorizava. A antropofagia cultural continua, e um gênero benquisto por Science marca presença em bandas contemporâneas, aqui e lá fora: o afrobeat ; estilo criado pelo nigeriano Fela Kuti. Ele ressurge modernizado, seguindo, ainda que sem querer, a cartilha proposta há duas décadas pela principal figura do movimento manguebeat.

O afrobeat é um dos elementos sonoros no grosso caldo musical proposto pelo quarteto sul-africano Kongos. Durante passagem pelo Brasil, a banda falou rapidamente ao Correio sobre essa influência. Formada em Joanesburgo, na África do Sul, o grupo é composto por Dylan, Johnny, Jesse e Daniel, filhos do músico John Kongos. Eles nasceram em Londres, mas viveram um bom tempo no continente, onde aprenderam a apreciar sons étnicos e tribais.

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;Nosso pai foi um dos grandes encorajados para o quarteto;, comenta Dylan Kongos sobre o patriarca, que fez sucesso na década de 1970, com o hit He;s gonna step on you again. O maior sucesso do Kongos, Come with me now, figura no primeiro álbum, Lunatic, que foi lançado em 2012, mas demorou alguns anos para emplacar no meio.

Hoje, o grupo possui 30 milhões de visualizações no YouTube. ;É uma honra liderar a lista de canções alternativas mais tocadas no ranking da Billboard representando a rica cultura africana;, completa. Desde 2011, eles vivem no Arizona, mas sem abandonar as referências que ajudaram a compor o som, com pitadas de pop, rock, folk americano e, claro, afrobeat.

Do lado de cá

Nos bailes da capital,  o afrobeat foi a razão de existência do grupo Munchacko

Em Brasília, o grupo Munchacko também carrega o afrobeat em sua musicalidade. O gênero, aliás, é a razão de existência do trio de música instrumental formado por Rodrigo Barata (bateria e samplers), Samuel Mota (guitarra, programações e synths) e Macaxeira Scioli (percussão e samplers), que faz um passeio musical ;do Camboja à Samambaia;. É assim que definem o som da banda, criada no final do ano passado. ;Íamos tocar apenas afrobeat, mas, como rock e ritmos brasileiros também eram uma necessidade, incorporamos outros elementos às músicas que fizemos;, conta Barata.

África a ser descoberta
Por Alfredo Bello, DJ, produtor e pesquisador musical sobre o afrobeat

Somos um povo que nasce de misturas de povos e culturas. Por isso, pudemos absorver o afrobeat em nosso caldeirão sonoro. Poderíamos ter percebido o gênero antes. Nos anos 1970, Gil e Caetano foram à casa de Fela Kuti. Somente em 1997 a Nação Zumbi gravou a música Nos quintais do Mundo (dois anos depois, eu já discotecava afrobeat nas festas Afrofuturismo, que eram realizadas em Brasília).

Chico Science era antenadíssimo e conhecia Fela Kuti, o nigeriano criador do gênero, porém, somente após a morte dele a Nação Zumbi gravou um afrobeat. A partir de então, passou a ser influência na rica formação Science e da Nação. Não conheço a existência de grupos no Brasil que faziam som semelhante anteriores a isso.

A inserção do afrobeat se dá no Brasil porque temos uma forte herança africana. Depois da Nigéria, o Brasil tem a segunda maior população negra do mundo. Tudo isso nos aproxima muito deles. Temos também presença muito forte da cultura yorubá ; o culto dos orixás vem da Nigéria, entre outros países.

Assim fica mais fácil de assimilarmos. Em 2008, fiz uma música chamada Nossa África que trata um pouco de quanto temos de África e do forte racismo que existe no Brasil, herança da sociedade escravocrata.

Além do afrobeat, podemos ainda ter contato de forma plena com vários ritmos e culturas africanas. Mas o público brasileiro ainda espera os europeus e americanos dizerem o que é bom. Tom Zé precisou do americano David Byrne para voltar a ser respeitado no Brasil. Existem muitas Áfricas a serem descobertas e adoradas.


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