Se não há palcos, que se tome a rua, como faz a Cia. Andaime. Sem local para ensaios, as entrequadras viraram local de construção e experimento. Se não há incentivo público, os integrantes do gripo Tripé estão dispostos a vender tudo para que a nova peça não morra ainda antes da primeira apresentação. Se o mercado ainda se revela restrito (apesar da recente e inquestionável expansão), que se busque outros centros, como fez o pessoal da Cia. Teatro dos Rumos. Os cinco atores do grupo se mudaram juntos para o Rio de Janeiro, sem jamais esquecer as raízes.
As três trupes de Brasília recorrem à criatividade para driblar alguns velhos clichês do panorama cênico da capital. Até quando as peças serão assistidas somente pelos colegas da classe artística, amigos e familiares? Até quando o Fundo de Apoio à Cultura (FAC) favorecerá burocracia em vez da qualidade artística? Quando será possível encarar uma temporada a partir da bilheteria?
Arte por toda parte
A única vez que os atores da Cia. Andaime fizeram uso de um palco foi ainda durante a faculdade, quando eles ocupavam as instalações da Universidade de Brasília (UnB). Desde então, preferem a rua. ;Sempre pensamos no experimento da espacialidade;, explica Leonardo Shamah, um dos integrantes do grupo, que está completando oito anos de trajetória em 2015.
;Outro pressuposto é a problemática dos palcos. A ausências de espaços;, acrescenta. Assim, a Andaime quebrou o paradigma dos espaços tradicionais e tomou as ruas do Distrito Federal. Por meio de intervenções urbanas e propostas cênicas de aproximação, eles levaram espetáculos para o metrô, para as praças, vielas e parques.
;Claro, nosso objetivo é ser assistido. Estabelecer esse diálogo. Várias de nossas peças não foram vistas somente pela classe artística, mas pelos mais diversos públicos, de todas as cidades do DF;, comenta Leonardo.
Vende-se um espetáculo
Apesar da tenra idade dos integrantes, o grupo Tripé já conhece as dificuldades de se levar um projeto aos palcos. Ana Luisa Quintas, Gustavo Haeser, Davi Maia e Miguel Peixoto, todos na casa dos 20 anos, estão no segundo espetáculo. Da mesma maneira que na primeira montagem, eles não contam com qualquer incentivo público.
O novo espetáculo surge a partir de uma iniciativa pouco recorrente. Eles resolveram colocar tudo à venda. Abriram uma loja virtual e disponibilizaram uma série de artigos e produtos. Eles vendem roteiros, figurinos, cenas personalizadas, desenhos. Mas há opções mais criativas, como uma aula de yoga com Gustavo Haeser ou uma carona com Ana Quintas.
;Vamos nos vender! A gente já faz isso todo dia. Estar no palco é um pouco disso;, sugere Ana. ;Praticamente, tudo! Propostas mais ousadas serão consideradas, mas o valor será bem mais alto;, completou, aos risos.
Rumos cariocas
Em 2013, por conta de um programa de mobilidade acadêmica, os cinco artistas que integram a Cia. Teatro dos Rumos ; Éryca Gonçalves, Gabriel Borges, Lairce Dias, Lucas Liér e Nathy Torres ; trocaram a UnB pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio).
Dispostos a levar a arte adiante, animaram festas, deram aulas e ministraram oficinas, até que os espetáculos tomassem forma.
;A cada espetáculo, a gente se reveza nas funções de ator, diretor, produtor, a partir das afinidades de cada um;, conta Gabriel, que também é autor.
;Nenhum dos nossos projetos recebeu patrocínio. Não dá para esperar ser contemplado sempre. Essa expectativa, inclusive, enfraquece;, observa Lairce.
Eryca celebra a diversidade do Rio: ;Em Brasília, éramos muito vistos por amigos e familiares. Aqui, esbarramos com um público maior, formado por desconhecidos dispostos a conhecer nosso trabalho ;.