Benquisto por todo mundo, Zeca Pagodinho costuma receber muitas letras de diversos compositores. Mas o processo de escolha de repertório, segundo ele, é, em sua maioria, informal, sentado com amigos numa roda de pagode ou nas andanças pela Baixada Fluminense. ;É no melhor estilo chinela e camiseta;, brinca.
Ele critica a qualidade de algumas letras que chegam a suas mãos. ;Houve um empobrecimento nas composições, já esbarrei com frases do tipo ;a gente vamos se amar;; Aí é complicado! Isso tem acontecido em todos os gêneros, não só no funk e no samba;, pontua.
[SAIBAMAIS];A música como conhecemos está perdendo espaço, está ficando muito eletrônica. Não há muita poesia como as que encontrávamos nos festivais de antigamente;, completa, cantando versos de Sílvio Caldas e Vinícius de Moraes para exemplificar a reclamação.
Nos últimos álbuns, nota-se a inserção de instrumentos como violino e até guitarras nas canções. Para Zeca, é uma maneira de inovar o pagode. ;O samba cansou de ficar naquele cantinho, com um pandeiro na mão. Eu não tiro a minha batucada, deixo as minhas cuícas, mas gosto de incluir novos arranjos;, comenta.
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O samba ainda consegue ser representante de um povo marginalizado?
Claro, e provar que não é isso. Tem gente ruim em tudo que é lugar. Não estamos vendo um monte de engravatados indo em cana com esse história da Petrobras? Eles não tem cara de bandido, usam roupas bonitas, mas bandido não tem cara.
Numa entrevista antiga, você disse que ;quem faz samba não desiste;. Quando teve esse problema sério na coluna, pensou, em algum momento, em abandonar os palcos?
Não, é o momento que eu estou em total entrega. O palco é uma delícia. Os problemas são as viagens, as conexões, os shows em lugares distantes. O Norte, por exemplo, é lindo, é maravilhoso, mas já fui a cidades onde do aeroporto, pega outro avião, depois um ônibus; Aí, a gente fica moído.
SAIBA MAIS
Zeca Pagodinho está na estrada desde que o LP Raça Brasileira, com vários intérpretes, e originou a onda de pagode na antiga gravadora RGE. O sucesso veio desde o primeiro álbum, homônimo, de 1886, que continha o hit Judia de mim, fruto de parceira com Wilson Moreira. Desde então, emplacou várias músicas nas paradas musicais. Antes de Ser humano, o pagodeiro lançou 23 discos solo.
Ser humano
Amor pela metade (Dunga e Gabrielzinho do Irajá)
Ser humano (Claudemir, Marquinho Índio e Mário Cleide)
Mangas e panos (Nelson Rufino)
A Monalisa, com participação de Pepeu Gomes, na guitarra (Zé Roberto e Adilson Bispo)
Etc. e tal (Fred Camacho, Marcelinho Moreira e Dudu Nobre)
Perdão, palavra bendita (Monarco e Mauro Diniz)
Mané, rala peito, com participação de Pedro Bismark como Nerso da Capitinga (Marco Diniz, Barbeirinho do Jacarezinho e Luiz Grande)
Só na manha (Brasil, Gilson Bernini e Xande de Pilares)
Foi embora (Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e Sombrinha)
Nas asas da paixão (Marcos Valle, Luiz Carlos da Silva)
Tempo de menino, com participação de Juninho Thybau (Kiki Marcellos e Juninho Thybau)
*A repórter viajou a convite da gravadora Universal Music