Ricardo Daehn
postado em 30/04/2015 08:03
A partir desta quinta-feira (30/4), o público poderá conhecer os dois lados de Fábio Porchat, no teatro e no cinema. O filme Entre abelhas, definido pelo ator como uma tragicomédia, chega ao circuito no mesmo dia em que Porchat apresenta seu espetáculo de stand-up Fora do normal, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
[SAIBAMAIS]Dirigido por Ian SBF, um dos cofundadores do Porta dos Fundos, Entre abelhas entra no terreno do fantástico, ao contar a história de Bruno, que, após divorciar-se da mulher (Giovanna Lancellotti), passa a viver experiências estranhas. As pessoas desaparecem para ele. Isolando-se progressivamente do mundo, o personagem contará com a ajuda da mãe (Irene Ravache) e do melhor amigo (Marcos Veras), para tentar adaptar-se à sua solitária situação.
Diferença
O filme apresenta um Porchat mais contido. O humor aparece de maneira diferente do que o público está acostumado a ver no canal do Porta dos Fundos e fica por conta dos coadjuvantes.
Já no palco, Porchat mostra sua habilidade como comediante. Com sessões esgotadas em São Paulo, o espetáculo traz o ponto de vista bem-humorado de Porchat sobre questões dia dia a dia, desde o telemarketing até a tecnologia em banheiros. Sem cenário, sem figurino e sem trilha sonora, o stand-up é o encontro direto entre o humorista e o público.
Confira abaixo entrevista completa com o ator
Alguma coisa mudou, em termos de espectadores, desde a última vinda do show que tinha sido apresentado no Sesc de Taguatinga?
Hoje tenho mais público querendo ver, por estar mais na mídia. As pessoas estão vendo mais o meu trabalho, mas é coisa de momento: a gente não sabe o que vai acontecer na semana que vem. No show, falo sobre o dia a dia, falo sobre minha ex-mulher, sobre minhas viagens ; já que eu adoro viajar. Já fui ao Marrocos, ao Japão, ao Egito. Falo sobre atendimento ao consumidor. Falo do cotidiano, e as pessoas se identificam. Por tudo isso, acabam dando risada. É um programa que está no Netflix e ele tem uma hora de duração.
[VIDEO3]
Mas, mesmo estando disponível na internet, gera interesse, né?
As pessoas assistem muitas vezes ao mesmo filme, muitas vezes à mesma esquete do Porta dos Fundos. Veem muitas vezes a mesma peça. Não é todo mundo que tem Netflix. Não tá passando na televisão aberta. Além do mais as pessoas querem ver aquela piada feita ao vivo. Acham (e faz) muita diferença.
Você se assume workaholic?
Acho que sim. Gosto muito de trabalhar: de fazer coisas de estar produzindo. Tô tendo ideia o tempo todo. Sempre tô pensando em como colocar em prática essas ideias. Eu anoto as coisas, para não serem perdidas: tipo esquetes, de momento, para o Porta dos Fundos.
Você ajustou muito o roteiro de Entre abelhas, feito há alguns anos?
Engraçado como aquilo que vi, há sete anos, era um prenúncio do que estamos vivendo hoje. O que mudou nesse período é que era impossível eu e o Ian SBF (diretor) pensarmos em fazer o "nosso" filme. Era impensável e, hoje, é plausível. As pessoas, em termos de ideias do filme, continuam presas a seus mundos: tudo está no celular, no smartphone ; a gente está, cada vez mais, individual, precisando menos do outro: tá tudo concentrado numa coisa só. O filme, nesse sentido, ficou mais atual ainda. Correlacionado com esse lance do sucesso, quando você está no centro, você tende a assumir uma reta, no olhar. Se vou andando, e paro, a cada pessoa que se interessa, não chego aonde tenho que chegar. Aliás, a Xuxa andando na rua deve ser curioso, né?
Bom, ela é loura também...
É, ela é loura, mas eu tô moreno, no filme. (risos)
Você percebe uma afinidade do Entre abelhas com o tipo de humor dos argentinos?
Pra dizer a verdade, nem sei quais são as comédias argentinas ; eu não as acompanho, hoje em dia. De comédia portuguesa, entendo, e da norte-americana, também, por causa das séries. Quanto ao cinema argentino, me pergunto: Medianeras: Buenos Aires na era do amor virtual (longa premiado no Festival de Gramado), por exemplo, é uma comédia?! Vejo mais ele como um romance, um dramance. Não traçaria paralelo, até porque a última comédia que vi foi Um namorado para minha esposa (2009). Essa sim, parece a comediona popular, dessas que o Leandro Hassum faz.
Depois de confirmar versatilidade no filme, seria meio precipitado te visualizar numa novela das oito?
Fazer novela para mim seria complicado por ter de ficar nove meses à disposição. Eu trabalho muito: tô com duas peças em São Paulo. Eu faço Porta dos Fundos, eu tenho filmes que vou fazendo, mais o Tudo pela audiência, no Multishow. Tem muita coisa acontecendo na minha vida. Não veria problema nenhum em novela; o personagem sendo bom... O problema é que para comediante sempre dão o mordomo, o garçom, o feirante, o motorista ; nunca dão o personagem principal.
Como você convive com a fama?
Tento levar numa boa: tiro foto com todo mundo, na rua, quando pedem. Não tenho problema nenhum com isso. É claro: existe uma mudança, quando você é artista. Eu, por exemplo, gosto muito de observar o que está acontecendo ao meu redor. Quando você passa a ser reconhecido, nas ruas, as pessoas é que estão te observando. Você não consegue mais observar e sair impune dessa observação. Este é o lado negativo da coisa. Você ser o centro das atenções tem o lado ruim de você sentar no parque e não conseguir mais ver a senhora alimentando os pombos. Ela está olhando pra você, e para os pombos.
Como você responde à atual condição de assédio?
Eu pego metrô, no Rio e em São Paulo, por exemplo. Eu ando pela rua, normalmente. Você não pode é acreditar muito num distanciamento. O sucesso é uma coisa tão efêmera, né? Hoje, estou dando esta entrevista, e, em três anos, ninguém mais sabe quem eu sou. Daqui a dez anos, volto, sendo a grande sensação. O legal do sucesso é ver que as pessoas estão reconhecendo o teu trabalho. Elas dizem: "Continua por aí, que a gente tá gostando".
[VIDEO1]
Qual o efeito de ser coprodutor de um filme?
Você tem força para decidir como quer que o filme seja contado e feito. É importante poder dizer: ;Assim, funciona; do outro jeito, não;. As pessoas passam a te ouvir mais. Você ser dono do filme te dá uma tranquilidade. Esse poder, porém, vem do somatório de tudo que faço. Tenho uma porcentagem garantida, pelos filmes que faço. Comecei a chamar a responsabilidade mais para mim. Tenho minha empresa, que faz os meus projetos. O Porta dos Fundos é uma empresa que também é minha. As peças que faço são produções minhas. Na verdade, tentei chamar muito as coisas para mim.
Você sempre se sentiu dono da situação?
Nada. Nas peças, já fiz muita piada que não funcionou. Fiz coisas que não deram certo. Ou filme em que o personagem podia ter mais um tom. É fazendo que a gente aprende. Acho até que erro mais do que acerto. Tento trabalhar meus erros, para que, quando apresente, eles fiquem menos errados possível (risos).
Dá para segmentar seu apelo nos diferentes meios em que se apresenta?
Não. Na verdade, a pessoa que assiste na internet, e gosta, vai ao cinema. A pessoa que vê no cinema e gosta, vai ao teatro. Uma coisa vai levando para outra. Por mais que os públicos possam vir de lugares diferentes, eles acabam migrando para o mesmo lugar. Se gostam, continuam, se não, param. Com certeza, os idosos não são o público da internet.Com certeza, as crianças não são o público do cinema. O público que me vê também no teatro, é muito diversificado: tem casal, tem idoso, tem jovem, tem mulher, tem gay ; vem todo mundo.
Ver seus colegas de cena ; Marcos Veras e Luis Lobianco ; tão à vontade, no tom de comédia de Entre abelhas, não rendeu pontadinha de inveja (risos)?
Ao contrário. Precisava que eles estivessem com a faca e o queijo na mão, em termos de piadas, para que o filme tivesse alívio cômico. Era um alívio, tê-los ao lado: saber que eu levantaria e eles cortariam, para a piada. O filme precisava deste respiro.
A Irene Ravache é das antigas, mas pende para o humor sofisticado. Dos contemporâneos dela, quem você admira, quando o assunto é comediante?
Irene Ravache não é uma comediante, ela é uma excelente atriz que faz comédia, brilhantemente. Vi Intimidade indecente (uma peça feita ao lado do Marcos Caruso), e ela arrebentava. A Irene tirou o Entre abelhas de letra. Além de ser muito generosa: ela aconchegou, e disse: ;quero entrar na onda de vocês;. Quanto aos comediantes das antigas, que me inspiram acho que a gente fala do Chico Anysio, que é um marco, eu sou muito fã do Golias ; e ainda do Lucio Mauro, do Rogério Cardoso e do Paulo Silvino. Eles são pessoas de uma geração lá de trás e que permanece muito engraçada.
[VIDEO2]
É verdade isso de você e do Ian SBF terem sido, reciprocamente, padrinhos de casamentos que acabaram? Aliás, a afinidade dos amigos é superior a das conquistas amorosas?
Depende. Tem gente que monta sociedade, briga e acaba tudo. Destrói um patrimônio, uma empresa. Não adianta: depende das pessoas mesmo. Não tem uma verdade absoluta. O que importa é
você encontrar a pessoa certa.
Como vocês arejam o Porta dos Fundos, para evitar a mesmice? É possível que, num caso de desgaste, você largue o Porta?
Não deixaria, nunca, porque lá é minha empresa, e posso fazer qualquer projeto nela. Inclusive os individuais. Mesmo os filmes que venha a lançar, não necessariamente, terão vínculo com o resto da equipe do Porta. Não saio de lá, porque o Porta não é uma emissora que me contratou: é a minha emissora. Se, por exemplo, o Gregório Duvivier (outro integrante do grupo) quiser fazer um blog sobre poesia, pelo Porta, ele pode fazer.
No longa Entre abelhas, você tem seu momento Vanilla Sky (numa metrópole, momentaneamente, vazia); Como foi executada aquela cena e é difícil deixar de ver atores em cena, no contracenar?
A gente fez aquilo lá, sem ninguém mesmo, na rua. Quem tivesse estado, por acaso, na área, foi apagado, digitalmente. Mas, geralmente era sozinho mesmo. Contracenar com o nada, na verdade, é mais fácil do que contracenar com alguém que, em cena, você não é para enxergar. Fingir que você não está vendo, é muito difícil. O olhar quer denunciar.
Uma piada fraca pode ser salva?
Geralmente, a primeira vez que você faz uma piada, ela não está necessariamente pronta. Ela tá torta: funciona, mas ela precisa ser ajeitada. No processo, uma piada mais ou menos pode virar uma piadona. Precisa é ser feita, refeita, refeita e retrabalhada. Piada é assim: só sabe se funciona, se fizer. Do mesmo lugar que vem a piada boa, vem a ruim ; é da mesma cabeça.
Na telona, o que te emociona e o que te faz rir?
No cinema, o que me faz rir? Boa pergunta... O Steve Carell, apesar de o último filme (Foxcatcher) dele ter sido um drama. O que me emociona, no cinema, são as histórias baseadas em fatos reais e os dramas nessa linha.
Fora do normal
Show de stand-up comedy, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Hoje, às 19h e sessões extra, às 21h30 e 23h. Poltrona Vip e Poltrona especial: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia). Poltrona superior (balcão): R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia). Ingressos à venda na central de ingressos do Brasília Shopping e site da Ingresso.com. Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3034-6560.
Entre abelhas
Longa-metragem de Ian SBF, nos cinemas, a partir desta quinta-feira (30/4).
Fora do normal
Hoje, no Salão Master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental), às 20h, às 21h30 e às 23h. Ingressos a R$ 100,00 e R$ 80,00 (inteira). Informações: (61) 3034 6560. Não recomendado para menores de 14 anos.