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"Eu queria morar em Beverly Hills", dizia a letra de uma música da banda pernambucana Paulo Francis Vai pro Céu, que está cada vez mais desatualizada. Foi-se o tempo em que ser ator de Hollywood era sinônimo de glamour. Uma série de filmes recentes tem demonstrado que os próprios artistas da indústria cinematográfica norte-americana sentem desconforto em relação ao estilo de vida no qual eles mesmos estão inseridos. Mapas para as estrelas, de David Cronenberg, que entra em cartaz na próxiuma quinta no Recife, é um dos mais fortes exemplos dessa safra marcada pela autocrítica e pela desglamourização.
No filme, astros como Julianne Moore, Robert Pattinson, Mia Wasikowska e John Cusack interpretam personagens que vivem em Los Angeles e trabalham direta ou indiretamente para os grandes estúdios. No lugar de uma rotina cheia de classe, entretanto, eles protagonizam uma sequência de situações constrangedoras, desumanas e até escatológicas.
[SAIBAMAIS]O ator vivido por Evan Bird, por exemplo, é um astro mirim, com 13 anos de idade, viciado em drogas, arrogante, capaz de atirar em um cachorro e espancar um garoto até a morte. Ele é uma demonstração de como a fama e o dinheiro podem corromper uma personalidade muito cedo.
Com Mapas para as estrelas, Julianne Moore (ganhadora do Oscar este ano por Para sempre Alice) venceu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes no ano passado pelo papel de uma atriz fictícia chamada Havana Segrand. Sexo é o mínimo que ela está disposta a fazer para conseguir emprego ou ostentar poder. A personagem está angustiada porque perdeu um papel em um filme, mas vibra de felicidade quando sua concorrente desiste do trabalho por causa da morte do filho.
Mia Wasikowska (Alice no País das Maravilhas) interpreta a assistente pessoal de Havana, que é humilhada pela patroa com naturalidade. Ela é obrigada até a entrar no toalete em meio a uma crise de diarreia da chefe. Julianne Morre sentada na privada é uma das cenas mais bizarras do filme, que ao mesmo tempo demonstra a coragem dela para assumir papéis que outras recusariam com medo desse tipo de exposição esquisita.
Diretor de clássicos como A mosca (1986), Cronenberg é um cineasta que sempre consegue inserir alguma nojeira em seus filmes, seja ela fisiológica ou moral. Ele gosta de provocar desconforto e de obrigar o público a enfrentar o lado podre da vida, que muitos preferem fingir que não existe.