Diversão e Arte

James Fensterseifer dispara: a sociedade está mais careta e o teatro também

Artista multifacetado critica quem se acomoda com o FAC e lembra de como foi criar o Jogo de Cena

postado em 26/04/2015 08:02

James Fensterseifer:

O sobrenome nem todos sabem dizer. E James Fensterseifer já está acostumado a escutar as mais divertidas versões (a pronúncia correta é ;fenstersaifer;). Mas o rosto, não há um na classe artística de Brasília que desconheça. Embora conte que ainda há nomes com quem gostaria de trabalhar, foram poucos os que não dividiram o palco ou os bastidores com ele. Iluminador, ator, diretor, dramaturgo e produtor, o gaúcho James desembarcou por aqui aos 18 anos e logo se fez artista. Nos anos 1980, integrou e fomentou a efervescência cultural que mudaria a cara da capital. Na mesma década, já estava envolvido com o projeto pelo qual entraria para a história de Brasília, o Jogo de cena. E lá se vão 30 anos;

O teatro de Brasília anda mais careta?
Acho que a sociedade, em geral, anda mais careta do que nunca. Parece que experimentaram um pouquinho da liberdade nos anos 1970 e 1980 e não aprovaram. Ser controverso até virou moda, o que acabou gerando um novo ;lugar comum;. Além disso, é inegável que os artistas precisam de público, então, como reflexo, muitos acabam se enquadrando.

Pode nos contar algumas histórias de bastidores?
Em 30 anos de carreira, são muitas histórias. Lembro-me de uma em especial. Estávamos em temporada com o espetáculo Cosme trepado, no Teatro Galpão. Era uma temporada puxada, com muitas apresentações. Eu assistia da coxia para não ocupar o espaço do público. No meio de uma das apresentações, percebi que as falas ficaram estranhas. Os atores improvisavam. A cena acontecia, mas estava travada. De repente, ouço a voz vinda do camarim: ;Acorda! Acorda, cara!”. Aí, percebi que um dos atores não entrou em cena e os dois outros improvisam a fala que seria dos três. No fim, fiquei sabendo que o amigo estava muito resfriado e havia dormido no camarim pouco antes de entrar em cena.

[SAIBAMAIS]No primeiro Jogo de cena você participou como iluminador, correto?
No começo, muitas cabeças comandavam o Jogo de cena e a equipe técnica era considerada como parte da coordenação. Então, apesar de iluminador, já participava de importantes decisões. Logo depois, perceberam que muita gente no comando atrapalhava a organização do evento. Então, a partir do segundo mês de criação, foi reduzida a equipe, deixando Léo Neiva na coordenação-geral, Tenisson Ottoni e eu como seus assistentes.

O que o levou a assumir o projeto e levá-lo adiante por 30 anos?
Em 1988, a nova diretoria da Fundação Cultural nos comunicou que não era de interesse da política cultural que seria implementada continuar com o evento. Foi um baque terrível para mim. Eu achava que o Jogo de cena era a coisa mais importante do mundo. Tinha a sensação que estávamos fazendo história. Não conseguia conceber que uma ideia tão boa, que estava efervescendo Brasília, acabaria sem mais nem menos. Léo Neiva se mudou para França, investindo na carreira de ator. Então, Alexandre Malta ; que, em 1987, tinha entrado no lugar do Tenisson ; e eu nos juntamos para tentar dar continuidade ao Jogo de cena. A saída que encontramos foi reformatar o projeto e apresentá-lo ao Sesc, que nos acolheu até o ano de 1993.

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