;Mais que um simples antimanual de onicofagia, este é um livro para se ler com os dentes;, é o que antecipa a contracapa do livro Eu tenho unhas, mais nova obra do poeta Nicolas Behr, em parceria com a ilustradora Luda Lima, que será lançada nesta quarta-feira (22/4), no Objeto Encontrado, a partir das 18h.
Em uma fusão entre a poética e os estímulos imagéticos, o livro preparado a quatro mãos brinca e traz reflexões acerca do que é ter unhas, deixar de tê-las, e depois decidir preservá-las e reaprendê-las.
São mais de 50 poemas e diversas ilustrações. "Elas têm seu lugar, não estão lá para deixar o livro mais leve ou mais pesado, mas para dar graça", conta Behr. Eu tenho unhas é o terceiro livro ilustrado do autor, mas o primeiro que não é voltado para o público infantil.
Muito pelo contário, para o poeta é um "livro com uma pegada punk, escancaradamente autobiográfico e com o qual tenho algumas questões mal resolvidas". Behr considera a obra a mais radical desde Chá com porrada, que escreveu aos 20 anos.
O poeta, que rói unhas desde criança, conseguiu parar por um período depois de cerca de uma ano de psicanálise: "Parei de roer e fiquei com unhas enormes, depois recai, mas naquele momento eu passava por uma coisa que não conhecia, que era ter unhas". Entusiasmado com a novidade, escreveu 80% do livro em um dia, o restante veio depois.
"É um livro que mais pergunta do que responde", antecipa Behr, que não se orgulhar de roer unhas e afirma não saber os motivos que levaram a expor algo assim: "Por quê expôr uma fratura?". O poeta considera o livro temático uma experimentação, pelo uso da linguagem e o conteúdo ilustrativo. Um outro grande diferencial é que destoa do objeto marca do artista: "Tem um grande mérito por não se tratar de Brasília".
Sobre a parceria com Luda Lima, o poeta é firme: "foi fundamental para o livro, além de ser talentosíssima, ela também rói unhas", brinca. Feliz com o resultado do livro, Behr espera pelas reações do público ao tema que, embora a princípio possa não pareçar, é extremamente delicado e complexo: "É uma coisa meio incontrolável isso de roer unhas. O livro ficou muito bonito, mas acho triste. Deverá servir para análise".
Ilustradora
Luda realizou o sonho de trabalhar com alguém que admira muito: "Desde adolescente conhecia o trabalho do Nicolas e gostava muito", conta. As primeiras conversas sobre o livro começaram em 2011, na época, a ilustradora não sabia por onde começar. ;Via os poemas dele se bastando muito;.
Embora já tivesse trabalhado para revistas, ilustrado livros infantis, Luda nunca havia desenvolvido arte em um livro de poesia. ;Eu quis ir além da literalidade, das palavras, porque no ilustrando um poema você pode cair em uma coisa muito literal, e eu não queria isso;, explica.
A criação conjunta é que deu forma ao livro que precisou ficar engavetado por um tempo até que fosse retomado, revisto e aperfeiçoado. ;Foi tudo muito conversado entre nós dois;, afirma Luda, que também é designer.
Lançamento do livro Eu tenho unhas
Nesta quarta-feira (22/4), às 18h, no Objeto encontrado (102 norte)
Trechos do livro
;sem nervo
sem dor
que graça tem
o poema
indolor?;
;unhas
cravadas
nos postes
do eixão
dentes roendo grama,
asfalto e solidão;