Há quatro décadas, à época com menos de 40 anos, o cineasta Vladimir Carvalho não entendeu o recado de um cineasta alemão amigo do antropólogo Darcy Ribeiro: quando você menos espera, tem 70 anos. ;Agora, quando são dez anos em cima de 70, faz uma certa diferença, sim. Não entrei ainda na pele do velhinho que eu vejo no espelho;, comenta o documentarista que se diz entretido com a vida. Aos 80 anos, ao menos dois eventos referendam a importância do persistente ativista cultural: Jornal de cinema, um livro com ensaios sobre a sétima arte, que será lançado hoje, na Livraria Cultura (do Iguatemi); e, na próxima semana, a mostra Vladimir Carvalho Doc 8.0, com 27 filmes de sua autoria na programação.
Confira a programação da mostra Vladimir Carvalho Doc 8.0
;O livro tem um caráter retrospectivo. São várias as estações que percorri, desde que me entendo por gente, com relação ao cinema. Percorri do Nordeste até Brasília, e é uma tentativa, aos pedaços, de contar a minha própria história: está tudo lá, com artigos publicados em jornais e outros textos inéditos. Trago escalas da minha própria participação no cinema brasileiro;, explica o diretor. Ao falar da própria trajetória, não é por convencimento que Vladimir percebe a ultrapassagem da própria linha de chegada. ;É quase uma metáfora: antes de mais nada, sou um retirante. Sou na verdade, um migrante. Nós, do Nordeste, por premência social e econômica, estamos sempre em movimento. Isso influencia no que faço: tenho filmes dos mais variados conteúdos;, observa o cineasta.
[SAIBAMAIS]Não foram apenas lugares como Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Brasília que modificaram a produção do cineasta. Pessoas e encontros foram fundamentais à consolidada carreira. ;De tudo eu testemunhei, quando cobri eventos do Museu da Imagem e do Som (SP). Entrevistei Ariano Suassuna, Câmara Cascudo e até o Donga (do primeiro samba a ser gravado, Pelo telefone) ; isso tudo, aumentou mais o meu gosto pela cultura brasileira;, explica. Leitor fixado em jornais e livros, ;por obra e graça do modesto pai;, Vladimir Carvalho pouco deixou escapar, em termos de cultura.
Uma das portas de entrada foi o universo do político e intelectual José Américo de Almeida (tema do longa O homem de areia, a ser exibido no CCBB). ;Meu pai era fixado nele e no modernismo, especialmente, em romances. Américo abriu o ciclo do romance social brasileiro, antes de Jorge Amado, Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz. Desde pequeno, fui informado sobre esses momentos da cultura brasileira. Entendi que, a partir dos anos de 1910 e de 1920, tentamos nos inserir no panorama internacional, e o modernismo foi fruto dessa nossa inserção no mundo;, comenta. Inteiramente dedicado ao trabalho, no momento, Vladimir conta que está no Rio de Janeiro, disposto a editar ;o que passou nos últimos 10 anos; ; leia-se a empreitada de reavivar, em documentário, a memória do pintor modernista Cícero Dias, morto em 2003.
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