Por ter sido um termo que veio de fora para dentro - da imprensa para os artistas - essa denominação ;Vanguarda; incomodava?
Não, não me incomodava. Incomodava o Itamar [Assumpção]. Ele dizia que era música popular.
Qual era o sentimento de, de repente, estar inserido dentro de um rótulo?
Dá uma certa dimensão que aconteceu, que a coisa resultou, ocupou um espaço no universo cultural. Foi algo que até então que ninguém sabia que existia. A gente não sabia, não tinha noção de qual seria a reação do público para aquilo que estávamos fazendo.
[SAIBAMAIS]E você buscava algum tipo de subversão com a produção musical daquele contexto?
Claro. É bem claro isso para mim.
De que formas você acha que sua produção conseguiu contrastar com a música que estava sendo feita naquele momento histórico?
Quando comecei a trabalhar com a dissonância, a dissonância rítmica também - se é que é possível usar esse termo como adjetivo. Eu trabalhava com ritmo de uma forma não convencional, ao mesmo tempo criando formas. Não trabalhava com formas existentes, era uma outra coisa que misturava intervenções vocais. Era diferente.
[VIDEO1]
Quais eram suas ambições musicais naquele momento e quais passaram a ser depois?
A gente queria conseguir entrar no mainstream. De uma certa forma a gente conseguiu isso no mainstream cult, em uma coisa reservada, mas não na música popular brasileira. Fizemos um trabalho que repercutiu bastante e influenciou. Sempre existiu uma oposição muito forte da mídia eletrônica. Tínhamos um espaço muito bom nos jornais, mas não existia nada sobre a gente na TV e no rádio. A gente ficou sendo muito considerado por um segmento mais ;intelectualizado;. A gente teria condições de conseguir uma repercussão maior se tivesse acesso a esse tipo de mídia.
Por quê você acha que não surgiu esse interesse por parte da mídia eletrônica?
A minha música era muito radical, já a do Itamar era mais fácil. Mas tinha uma coisa, nós eramos independentes, para você entrar na TV ou no rádio, tem que ter uma série de relacionamentos que envolvem jabá. É uma coisa, difícil de entrar para uma grande gravadora. A questão da dissonância, que é algo muito agressivo para as pessoas, causa essa reação.
Existe música de vanguarda sendo feita hoje em dia? Você consome algum grupo atual?
A vanguarda, pode se dizer assim, é caracterizada pela ruptura. Estamos vivendo em um período de ecletismo. Desapareceram os ângulos, esteticamente, ficou tudo meio compactado. Então não, não vejo nada assim. A gente vinha na onda linha evolutiva da música popular brasileira. Tinha uma força ideológica que não existe tanto hoje.