;Sobe a p.... do volume, William!”. ;Murilo, mais devagar!”. ;Adriana, está com os peitos de fora? Tudo livre?; Se acrescentarmos o indefectível sotaque castelhano às frases, ficará fácil deduzir que foram ditas pelo diretor uruguaio Hugo Rodas, conhecido pela maneira provocativa ; e genial ; de lidar com os atores.
Pois Hugo acabou convocado pelo ator Murilo Grossi para dirigir Os fantasmas, peça inédita do paulista Otávio Martins, que toma conta do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a partir de hoje. Em cena, além de Murilo, a atriz Adriana Lodi e o ator William Ferreira, também convidados a ingressar na empreitada cênica. Sem querer, promoveu-se o encontro de quatro grandes nomes do teatro brasiliense. Pela primeira vez, Hugo, Murilo, Adriana e William trabalham juntos.
;Um prazer estar sob a regência de meu mestre, Hugo Rodas;, conta Murilo, que protagoniza a peça ao lado de Adriana, ;amiga querida, tão generosa;. Responsável por sugerir um espetáculo que pudesse participar dos festejos em homenagem ao aniversário de Brasília, o ator preferiu fugir do lugar-comum e provocar uma outra forma de comemoração, ;que se desse em cima do palco e celebrasse o fazer artístico.;
O processo cênico, enquanto elemento representativo da realidade, integra algumas das questões que permeiam Os fantasmas. Nas palavras de Adriana, o enredo ;fala sobre despersonificação, sobre os fragmentos de um casal que jamais poderão ser remontados.; Alternando humor e uma dose de crueldade, sem qualquer preocupação didática, a obra invoca a finitude das relações, sejam elas reais ou inventadas, como no teatro.
Militância
Embora estejam abraçados por uma faustosa produção, os quatro artistas conhecem bem uma plateia vazia, a falta de apoio e o saldo negativo de se viver de teatro. ;É uma luta diária. Uma vida de operário, com muitas batalhas a serem travadas;, comenta Adriana, que lecionou artes cênicas no Espaço Cultural Renato Russo por 12 anos. Com o fechamento do local, em 2013, o projeto teve de ser interrompido.
A vasta experiência de formar jovens atores, hoje, alimenta a pesquisa que a atriz desenvolve na Universidade de Brasília (UnB). Foi por lá, anos atrás, que ela cruzou com Hugo Rodas e começou a aprender sobre o palco. ;O teatro é sempre militante;, diz o diretor, que se recusa a se envolver com trabalhos de mero entretenimento. ;Faço apenas o que me interessa. O que me move. O teatro precisa ser útil, precisa ser uma forma legítima de expressão. Fazer por fazer é de uma pobreza sem fim;, decreta.
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